sábado, 28 de maio de 2011

O QUE EU LI NA 2ª SESSÃO A QUE FUI DAS "NOITES COM POEMAS"

DIÁRIO DE VIAGEM



A DESCRIÇÃO DA VIAGEM

(politicamente incorrecta)



Depois da viagem, os participantes

descreveram-na,  cada um à sua maneira,

àqueles que não tinham podido ir:



Um, mostrou desenhos (lindos! e coloridos!) … ao cego;



Outro, escreveu a crónica da viagem, que a descreve (tão bem!) e leu-a em voz… sussurrante… ao surdo;



Uma peça para piano alusiva à viagem, foi tocada (magistralmente!) também… ao surdo;



Uma receita tradicional da região visitada foi recriada e dada a cheirar e a provar ao cego que estava muito constipado… e sem olfacto nem paladar…;



A um outro cego mostraram objectos de artesanato trazidos da viagem. Ele não os conseguiu tactear porque estava muito frio, e tinha as pontas dos dedos geladas…;



No fim, perguntaram ao mudo o que achava das várias formas de descrição da viagem;



E ele respondeu em linguagem gestual.



Que ninguém entendeu.



Mas todos aplaudiram. De pé.



Eduardo Martins

Carcavelos, Março 2011




DIARIO DE VIAGEM

A REALIDADE


Pode REPRESENTAR-SE a Realidade?

Pode FIXAR-SE um momento da Realidade.

Podem representar-se MÚLTIPLOS MOMENTOS da Realidade.

TODOS diferentes.

Não se pode representar TODA a Realidade.


Eu hoje FIXEI UM MOMENTO da Realidade com a minha máquina digital.

GRAVEI-A no disco do computador;

NÃO QUERO VER todo o momento fixado.

Quero ver apenas uma PEQUENÍSSIMA PARTE DO MESMO.

Quero ampliar I N F I N I T A M E N T E esta representação da Realidade.

De UM MOMENTO da Realidade!

Até chegar à origem, ao INÍCIO DE TUDO!


Faço “zooms”sucessivos com o programa de tratamento de imagem.

Deixei de perceber o que aparece no monitor

Os “pixels”agigantam-se, ocupam com formas e cores difusas todo o espaço disponível;

Continuo incansávelmente a fazer zoom,

quero chegar à origem!


Finalmente!

Vou fixar o momento da descoberta da origem da representação da realidade.

Ligo a impressora, e transfiro a imagem para o papel.


Da impressora saiu uma folha em branco.


Eduardo Martins

Carcavelos, Março 2011


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