DIÁRIO DE VIAGEM
A DESCRIÇÃO DA VIAGEM
(politicamente incorrecta)
Depois da viagem, os participantes
descreveram-na, cada um à sua maneira,
àqueles que não tinham podido ir:
Um, mostrou desenhos (lindos! e coloridos!) … ao cego;
Outro, escreveu a crónica da viagem, que a descreve (tão bem!) e leu-a em voz… sussurrante… ao surdo;
Uma peça para piano alusiva à viagem, foi tocada (magistralmente!) também… ao surdo;
Uma receita tradicional da região visitada foi recriada e dada a cheirar e a provar ao cego que estava muito constipado… e sem olfacto nem paladar…;
A um outro cego mostraram objectos de artesanato trazidos da viagem. Ele não os conseguiu tactear porque estava muito frio, e tinha as pontas dos dedos geladas…;
No fim, perguntaram ao mudo o que achava das várias formas de descrição da viagem;
E ele respondeu em linguagem gestual.
Que ninguém entendeu.
Mas todos aplaudiram. De pé.
Eduardo Martins
Carcavelos, Março 2011
DIARIO DE VIAGEM
Pode REPRESENTAR-SE a Realidade?
Pode FIXAR-SE um momento da Realidade.
Podem representar-se MÚLTIPLOS MOMENTOS da Realidade.
TODOS diferentes.
Não se pode representar TODA a Realidade.
Eu hoje FIXEI UM MOMENTO da Realidade com a minha máquina digital.
GRAVEI-A no disco do computador;
NÃO QUERO VER todo o momento fixado.
Quero ver apenas uma PEQUENÍSSIMA PARTE DO MESMO.
Quero ampliar I N F I N I T A M E N T E esta representação da Realidade.
De UM MOMENTO da Realidade!
Até chegar à origem, ao INÍCIO DE TUDO!
Faço “zooms”sucessivos com o programa de tratamento de imagem.
Deixei de perceber o que aparece no monitor
Os “pixels”agigantam-se, ocupam com formas e cores difusas todo o espaço disponível;
Continuo incansávelmente a fazer zoom,
quero chegar à origem!
Finalmente!
Vou fixar o momento da descoberta da origem da representação da realidade.
Ligo a impressora, e transfiro a imagem para o papel.
Da impressora saiu uma folha em branco.
Eduardo Martins
Carcavelos, Março 2011
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