domingo, 31 de março de 2013

O "Blovo" (ou o "Blegg"?) da Páscoa 2013

Ultimamente a minha referência literária, vá-se lá saber porquê..., tem tido um certo toque marxista, não da tendência "Groucho", mas mais da tendência "Genro", quero dizer Paul Lafargue, que foi genro do dito Karl, e que escreveu com grande êxito e corte de seguidores, "O Direito à Preguiça"...

Já desde Dezembro do ano passado que não atirava nada para aqui. A produção também não tem sido por aí além, e a disposição idem idem.

Mas hoje, a exemplo do que vai acontecendo com o "software" informático, resolvi fazer uma actualização a este "Blovo", ou "Blegg".

Começando pelo fim, pelas comemorações do Dia Mundial da Poesia, realizadas nas Caldas da Rainha, pelo Comunidade de Cinéfilos e Leitores, como tem acontecido nos últimos anos, com homenageados e tudo, neste ano, a Historiadora e Editora da "Apenas Livros", Fernanda Frazão, e o Poeta Jorge Castro. No rescaldo das Caldas, escrevi a minha "Acta" das Comemorações... 


2013 - DIA MUNDIAL DA POESIA
 
Do Carcavélico areal já afastados,
Não por mares nunca dantes percorridos,

Mas por montes e vales muito aplanados,
Com autoestrádicas rotas enriquecidos,
 

Não cavalgando corcéis de fino porte,
Mas noutro confortável meio de transporte,

(hidrocarbonetado a preço forte,
Que o litro de gasóleo está pela hora da morte,)

Nos fizemos às Cálidas e Regias paranças,
Onde Leonor, a que foi Rainha,
(e não a outra, aquela dada a incautas danças,
Quando descalça ia para a fonte, pela fresquinha…)
Fez aplicar aos doentes, de forma misericordiosa,
Para quase tudo curar, a água sulfurosa…
 
 
Mas daquele grupo, de viajantes lá chegados,
Nenhum ia tomar remédio enxofrado,
Porque um, o Jorge Castro, era o Poeta homenageado,
(e os outros, acompanhantes e honrados convidados)
Para a comemorativa e festiva sessão
Do Dia Mundial da Poesia,
Sendo a Historiadora e Editora Fernanda Frazão,
A outra homenageada do dia.
 
 Para que conste, e em acta fique bem lavrado,
Que o acto de homenagem referido,
Foi, (como nos outros anos) muito bem organizado,
(tirando apenas, e com livro, um pequeno mal entendido,
Em que ninguém ficou ferido…)
Pela Comunidade que é de Cinéfilos e Leitores,
Que nas Caldas da Rainha tem já um cativo lugar,
Tendo como muito atentos curadores,
Os simpáticos e eternos sonhadores
Que formam um peculiar par,
Os amigos também da Poesia, Palmira e Carlos Gaspar.
 
Não vou falar da sessão pejada de merecidos elogios,
Que decorreu com a sala praticamente cheia,
E depois das boas vindas à vasta assembleia,
Os participantes arrolados mostraram os seus brios,
Tendo tocado, cantado, encantado, ou simplesmente declamado…

E assim, dado cabal cumprimento ao programa previamente apresentado,
Nos despedimos finalmente, trazendo por companhia,
O aviso de que para o ano que vem há mais,
E que todos não seremos demais
Para continuar a celebrar e a homenagear,
O Dia Mundial da Poesia…

 
 Eduardo Martins
Carcavelos, 24 de Março de 2013


Em Março, nas "Noites com Poemas", foi esta a minha participação:


 
A HISTÓRIA COMO MEMÓRIA COLECTIVA

 

Se começar com “Era uma vez…”

Não sou muito original,

Porque foi começando assim que cá se fez

A descrição de tanta coisa em Portugal…

 

Puxando pela memória colectiva,

E a colectividade neste caso aqui sou eu,

Mais a minha pessoa, e um “Alter Ego” meu,

Que vasculhando numa memória ainda viva,

Descobriu versalhadas bem antigas,

Bem primárias, meras letras para cantigas,

Feitas em idades verdejantes,

Quando ainda tinha veleidades violo-cantantes…  

 

Os anos, bastantes, foram passando,

E os poemas incognitamente descansando,

E se de quando em vez ainda eram trauteados,

Apenas agora, puxando pela memória foram digitados,

 

E enviados para a nuvem que aqui acima esvoaçando está,

Onde repousa a minha prática dita poética de há dois anos para cá,

De poemas sujeitos a temas, seja aqui, nas “Noites com Poemas”;

Nos “Poemas na Vila” de Coruche;

Em Carcavelos no “Café Poema”;

Ou na Junta de Freguesia, com a toponímia por tema…

para já não falar de mais familiares afectos,

com poemas dedicados aos meus netos…

 

Peço-vos desculpa, e autorização

Para relembrar a versalhada requentada,

Com cerca de meio século de elaboração,

Quando os sonhos eram, apesar de tudo, de cor bem mais rosada…

 

As poesias foram então feitas para serem cantadas,

Chegaram a ter melodias, também por mim elaboradas

Mas não as vou cantar, porque nunca tive voz,

Nem vou tocar viola, porque os dedos estão cheios de nós…

 

Se me dão licença, deixo as poesias, simplesmente…,sós…

 

Eduardo Martins

Carcavelos, 14 de Março de 2013
 
 


As "poesias da juventude" que eu trouxe para a actualidade foram estas:

 
ALDEIA TRISTE

Eu hoje vi uma aldeia tão triste,

Tão sem gente, só de mortos,

De velhos, e de emigrados…

 

Tão sem risos de crianças,

Tão sem domingos alegres,

Com festas e arraiais…

 

Tão triste, tão pouco alegre,

Só de pobreza vivendo,

Daquela pobreza triste,

Que não consegue ser rica…

 

Eu hoje vi uma aldeia tão triste… 

 
 Eduardo Martins, 1969
 
 
  
 
 
GUERRA
 
Há mães que choram, há pais sofrendo,
Pelos seus filhos que vão morrendo,
Não descobrindo porquê a guerra,
Eles vão caindo por toda a terra!
 
Por toda a terra, oh triste sorte!
Joga-se à guerra, ganha-se a morte!
 
E o filho amado, que já não volta,
Provoca então grande revolta
Contra o poder que nela insiste!
Fazem a guerra e a guerra é triste!
 
A guerra é triste porque há a morte,
Mas ainda existe, oh triste sorte!
 
 
Eduardo Martins, 1971
 
 
Para as participações nos "Poemas na Vila", que estão em grande em Coruche, foram estas os poemas que fiz:
 
POEMAS NA VILA
 
A FORÇA DAS PALAVRAS
 
Há palavras que têm muita força.
Halterofilista, por exemplo.
Ou grua, guindaste, guincho”…
Embora esta seja mais ambígua,
Podemos ser incomodados
Por algum ruído agudo,
Que entre pelos ouvidos dentro
 
As formigas, também são palavras
Com muita força, embora muito pequenas.
Carregam pesos enormes, e ainda por cima
Vivem em comunidade, e prestam ajuda umas às outras.
 
Há palavras sem força, como a palavra fraca”…
E a palavra leve, que quase não tem peso,
E palavras como o vento, que levanta folhas e poeira,
E o tornado que leva tudo num turbilhão ao passar?
E as ondas e as marés, que arrastam algas e detritos,
E atiram afogados contra as rochas,
 E outros despojos para as praias
 
E há a palavra feia,
Ela própria se classifica,
E há o chamado palavrão,
Que com esta terminação,
Se torna uma palavra enorme,
E não cabe na boca de quem a diz
E que tem de ser proferida
Da forma mais conveniente,
Ela, que já de si é inconveniente
O palavrão deve ser lançado boca fora
Como se fosse vomitado, cuspido, escarrado!
 
Pois é. As palavras têm muita força.
Ditas a despropósito podem causar dúvidas,
E atiçar desconfianças, que tantas vezes infundadas”…
Levam até à rotura de relações”…
 
Mas dita a propósito, uma palavra
Pode ser o inicio de uma bela amizade,
De um grande amor, e até quem sabe,
De um prolongado “Ódio de Estimação”…
 
Tudo depende da palavra e da sua força
Podem acontecer coisas terríveis,
Se o “ç” da força perder a cedilha.
Então, as palavras morrerão enforcadas

 
 Eduardo Martins
Carcavelos, 8 de Janeiro de 2013
 
 
POEMAS NA VILA

UM OLHAR SOBRE A POESIA
 
Eu bem queria ter um olhar sobre a poesia
Que fosse directo, sem intermediários
Queria olhar para a poesia de um modo claro e limpo
Mas a minha miopia não me permite
É sempre através de umas próteses
Que eu a vejo
 
Ou então, sem óculos,
 Vejo a poesia toda desfocada
Como se ela própria fosse difusa,
E como se as palavras que a compõem
Não fossem palavras exactas,
Mas sim palavras desconexas
Integrantes de um discurso de faz de conta
Palavras desarticuladas
Escritas para tentar impressionar
Aquelas pessoas que as tentam ler;
 
Mas que também se me tornam difíceis de ouvir,
Mas aí, quero acreditar que o defeito seja meu,
Porque com a idade, talvez esteja a ficar duro de ouvido.
 
Não consigo ouvir aquelas palavras desgarradas
Ditas para tentar impressionar,
As pessoas que fingem que as ouvem,
Com um ar recolhido, de olhos fechados,
Como participantes convictos de um ritual
Iniciático de qualquer coisa,
De que o poeta que as declara de forma eloquente
É o oficiante auto empossado
 
Eu bem queria que a poesia fosse luminosa,
E que ao olhar de frente para ela,
 Ficasse ofuscado pela sua beleza,
Pela sua singeleza e pelo seu conteúdo.
E pela mais valia que trouxesse às nossas vidas!
 
Mas muitas vezes, quando olho,
Não sei o que vejo;
Quando escuto, não sei o que ouço;
 
Desculpem:
Não haverá nada mais importante para dizer?
 
 Eduardo Martins
Carcavelos, 17 de Fevereiro de 2013

 
 
E também houve poemas para aniversariantes:
 
GUIDA
 
Margarida, Guida ou Tucha tu tens sido
Nos seguidos anos que já tens vivido.
E se à fonte não foste encher a cantarinha,
Noutras fontes outros dons foste beber,
Que de escrita, de desenho e de pintura,
E até de canto, de viola acompanhado,
Foste enchendo a tua vida com a arte,
Que do teu dia-a-dia já faz parte
E sem a qual, já não podes viver.
 
De fazer crescer crianças,
Em graça e sabedoria, fizeste actividade
E aos filhos quando vieram, de bem-vindos,
Soubeste dar a arte da felicidade.
 
Filhos crescidos e idos para outras vidas,
Outros lazeres e outras artes te atraíram,
E de novo deste o tempo por bem gasto,
Ajeitando em telas, a cor das tintas com bom gosto.
 
E chegaram as netas, e foste mãe outra vez.
E com a alegria e outra vez o desejo
De as fazer crescer em graça e sabedoria,
Escreves e pintas histórias, que recortas e recontas,
E plantas livros no jardim com arte.
 
Contas a partir de hoje mais um ano na idade
Da vida que com talento e arte tens vivido bem.
De ti ainda esperamos muita criatividade,
Porque ainda te faltam uns tantos anos para chegar aos cem.
 
Eduardo Martins
Carcavelos, 25 de Janeiro de 2013
 
 
E porque talvez a preguiça estivesse chegando, para dar os parabéns ao meu amigo Carlos Feio também poeta e detentor de  muitas outras facetas artísticas, enviei-lhe um simples email, em que me  autoplagiava, porque a idade que o Carlos comemorava era a mesma da minha amiga Ana Nogueira, já em dezembro transcrita...
 
Carlíssimo Peres Feio:
 
Neste dia em que se comemora aquele em que há uns anitos resolveste vir observar como era esta coisa do mundo em guerra, mais ou menos lá ao longe, e depois de uma transferência de numeração anual, eu ainda cansado e esvaziado com tanta informação e boas noticias que nos vão chegando, e encontrando-me meio esvaído de imaginação poética, vali-me de um estratagema que de vez em quando se utiliza, que é o de plagiar, neste caso, um duplo plágio, primeiro, àquele nosso colega, o João de Deus, e segundo, um autoplágio, visto que aproveitei quase integralmente uma versalhada de parabéns que enviei em Dezembro, para uma amiga que também atingiu essa idade que tanta vontade de piadar nos dá…
 
Portanto, aqui vai, e já agora, PARABÉNS!!!
 
Dia 2 de Janeiro de 2013
 
De uma maternal cartilha
João de Deus, digno autor,
Connosco também partilha
Parabéns dados com humor…
 
Inquiria ele gozando…
“Com que então caiu na asneira…?”
E tu, sessenta e nove chegando
Para completar quarta-feira…
 
Cada número redondinho
De circulo e cauda formado,
Um ao outro bem juntinho,
Cada cauda para o seu lado…
 
Parece uma cambalhota
Harmoniosamente acabada!
Batem perdigota e bota,
Na reviravolta dada…
 
Deixa lá que a seguir,
Hão-de chegar os setenta,
E outros mais hão-de vir…
Até chegares aos noventa
 
E quando chegar à centena,
E sempre a somar mais um,
A festa não será pequena
A olhar já para os cento e um…
 
Porque sendo frugal e engenhoso
E seguindo algumas teorias orientais,
Continuarás criativo e talentoso,
E chegarás aos cento e um, ou mesmo mais…
 
Eduardo Martins
Carcavelos, 2 de Janeiro de 2013
 

 
 
Pelo Natal de 2012, revi o que tinha escrito no Natal de 2011:
 
 
 

NATAL 2011, 2012…

 

Uma proposta de comemoração

 
Se o Natal é sempre que um homem quiser

Eu pela minha parte dispenso esta festa.

Com data fixa a 25 de Dezembro.

Não pensem mal de mim,

Q os poluidores o Ambiente ia ser todos os diasue sou egoísta, etc. e tal.

Antes pelo contrário,

Penso que o Natal devia ser todos os dias.

 

No dia Mundial do Ambiente,

Os poluidores portam-se muito bem,

E até inauguram uns contentores novos,

Com a presença das autoridades;

 

No dia Mundial da Criança

Os pedófilos ficam em casa

A visionar filmes antigos;

 

No dia Mundial da Paz,

Os traficantes de armas, anunciam

Que nesse dia não venderam armas,

E até largaram pombas com ramos de oliveira;

 

No dia da Mãe e no dia do Pai,

Os filhos até se mostram simpáticos para eles,

Esquecendo o comportamento dos outros dias,

Em que os ignoram e tratam mal;

 

Em todos os dias de qualquer coisa,

As más consciências apaziguam-se

E sentem-se com o dever cumprido.

A partir daí podem voltar

A fazer todas as sacanices

Por mais um ano!

 

É por isso que eu digo

Que o Natal devia ser todos os dias.

Mas que todos os dias

Também deviam ser os dias

Mundiais de Qualquer Coisa Boa

Para o futuro da humanidade,

Para que os comportamentos

Dos homens mudassem

Radicalmente.

 

E deveria ser decretada

A proibição da criação

Do dia Mundial dos Filhos da Puta,

Para que nem por um dia eles fossem lembrados

E nem sequer pudessem voltar a existir!

 

E fosse vigiada escrupulosamente

A aplicação da proibição

E punidos severamente

Todos os prevaricadores,

Se a justiça para aí estivesse virada…


Eduardo Martins
24 de Dezembro de 2011
(revisão em 23 de Dezembro de 2012)