sábado, 26 de novembro de 2011

2º ANIVERSÁRIO DO "CAFÉ POEMA"

O "Capuccino", estava cheio que nem um ovo, ou melhor, que a praia de Carcavelos em domingo de Agosto...
Comemorava-se o 2º Aniversário do "Café Poema", que Sérgio Guerreiro tem dinamizado, e o tema era "O Mar", com aperitivos variados... Um video do "SG" alusivo ao Mar e ao Medo, a actuação do Grupo Coral "Vox Maris", e para finalizar, a apresentação, ou "degustação" do "Carcaveló", como agora soe dizer-se acompanhado, como seria curial por vinho de Carcavelos...
Como o tempo não era muito, das duas "poesias"  ou melhor, "das duas produções da minha obra poética" como se diz agora,  que escrevera sobre o tema, apenas uma foi lida... a primeira...
Mas aqui seguem as duas:  

MAR PORTÁTIL

Eu queria transportar o mar comigo
Plantar algas verdes, na terra castanha
Humedecer rochas secas com os limos
Levar a espuma das ondas para a floresta ardida

Levar o mar pelas ruas das cidades
Espraiando-se no trânsito ensurdecedor
Tê-lo comigo sempre pronto a ser usado
Quando asfixiasse por falta de mar

Queria ver o mar, como se vê um quadro
Queria ouvir o mar, como uma sinfonia
Queria cheirar o mar como se fosse pó branco
Queria que o mar fosse o meu vício

Mas não consigo reduzi-lo
A uma dimensão facilmente transportável!
O melhor que consegui até agora,
Quando não estou ao pé do mar, é escutar um búzio...




MAR DIFERENTE


Há Mares de gentes corajosas
Que cantando, tocando, dançando,
escrevendo,  pintando, esculpindo,
pensando, fazendo, que vivendo
 contribuíram, para que tivéssemos vida melhor...

Há Mares que me ocorrem agora,
Certamente muitos ficarão de fora,
Não é que não mereçam ser citados,
Mas a memória vai com a espuma
E as ondas vão chegando uma a uma…

Há o Mar de Sá Carneiro,
Mas também o Mar Henrique Leiria
E o Mar Dionísio,o Mar Soares,
O Mar Bota, o Mar Ruivo,
O Mar Viegas e o Mar Cesariny
O Mar Laginha, o Mar Barreto

E há Mares que nos tocam no feminino
Mar João Pires, Mar Helena Vieira da Silva
Mar Barroso, Mar Lurdes Pintassilgo,
Três Mares, Velho da Costa, Teresa Horta, Isabel Barreno
Mar Alberta Meneres, Mar Alzira Seixo,

Há Mares diferentes
Mas que são Mares resistentes,
Que vieram espraiar nas nossas costas
As suas ondas de cor, de palavra, de som,
De angustia e alegria, de ironia,
Que nos ajudam a pensar...
Venham mais Mares...   


Eduardo Martins
Carcavelos, Novembro 2011


domingo, 20 de novembro de 2011

CASA DO ALENTEJO

O Pedro Jardim continua a divulgar o seu primeiro livro "Crónicas do Avô Chico". 
Ontem, foi na mitica "Casa do Alentejo".
Eu tinha assistido ao lançamento na Junta de Freguesia de Carcavelos, comprei-o, autografado pelo autor, li-o com curiosidade, e pensei que nunca tinha escrito nenhum poema sobre o Alentejo...
E "aviei" dois... um genérico, sobre "Paisagens Alentejanas", e outro um "Exercício de Estilo"...
A partir de uma quadra do "Avô Chico", desenvolvi (tentei desenvolver...) umas "décimas", que considero uma forma tradicional e de grande valia dos "dezedores" alentejanos...
Fui até lá, à nova apresentação e perguntei ao Pedro Jardim, se dava para "fazer uma perninha"... e ele permitiu...
Eu que não sou alentejano, mas sim Lisboeta (de Belém...), com raizes na Beira Baixa e no Oeste, lembrei-me do que disse o Kennedy em Berlim, "que eram todos Berlinenses", e eu ali, em "território Alentejano", também afirmei que "eramos todos Alentejanos", e lá foi poema...


PAISAGENS ALENTEJANAS

No Alentejo há milhares

Todas de grande valia,

Conforme são os olhares

De quem bem as aprecia.



Conforme for o sentir

De quem se julgue capaz,

De ver, cheirar, provar, ouvir

O que o Alentejo nos traz.



Paisagens de muitas cores

Campos a perder de ver,

Onde se ceifavam dores

Muitas ainda a doer.



Há paisagens construídas,

Ruas, casas alinhadas

Onde às portas passam vidas,

Em conversas demoradas.



Com os homens em frente à mesa,

Ou na tasca em pé ao balcão

Cada petisco uma surpresa,

Venham mais, faz-se serão!



Corte a navalha um panito,

Que o petisco está a chegar,

Bebam lá mais um copito

Para a função começar.



E lá vem a cantoria

A relembrar tempos idos,

Tristes uns, a maioria

Outros porém, divertidos.



E os factos relatados

Por quem começa a canção,

São pelo coro confirmados

Com a voz do coração.



Com a voz do coração

Que se arrasta compassada,

Canta-se outra e outra canção,

Pelo petisco acompanhada.



Outros petiscos virão,

Mais copitos são virados.

Até que acabe o serão

Com cantes tão bem cantados.



Eduardo Martins


Carcavelos, Novembro de 2011



DÉCIMAS AO AVÔ CHICO

“Vejo mar e vejo terra

Vejo espadas a luzir

Vejo o meu amor em guerra

Sem lhe poder acudir”



O Alentejo não tem fim

Vai da raia até ao mar

Tão grande que o meu olhar

Nunca viu uma coisa assim

E às vezes digo para mim

Se é na planície ou na serra

Que de noite o sol se enterra

Porque ele fica deitado

Que eu não o vejo em nenhum lado

Vejo mar e vejo terra.



De manhã já acordada

A gente para um novo dia

Uma história aqui se ouvia

Acerca de uma coitada

Que à terra chegou cansada

Sem forças, quase a cair

E mesmo assim a repetir

Uma vez e outra vez

Foram três as que ela o fez

Vejo espadas a luzir



De que luziam as espadas

Ainda se está para saber

Que ela não o soube dizer

Se brilhavam de guardadas

Ou eram luzentes de usadas

Em lutas para além da serra

Lutando por ter a terra

Que tinham ido defender

Para a ganhar e não perder

Vejo o meu amor em guerra



E a guerra está para durar

Continua bem acesa

E não há nenhuma certeza

De quem é que a vai ganhar

Quem morre e quem vai matar

Quem fica em sangue a esvair

Se quem ganha se fica a rir

Se o meu amor combateu

Ou se lutando morreu

Sem lhe poder acudir



Eduardo Martins


Carcavelos, Novembro de 2011

   

NOITES COM POEMAS

Na Biblioteca de S. Domingos de Rana, numa noite de resistentes, devido às condições climatéricas abaixo de qualquer qualificação, foi pena que tão poucos tenham ouvido o Carlos Nogueira a falar da "Sátira Portuguesa".
Como tem sido meu hábito, preparo geralmente dois "poemas" alusivos ao tema para ler nestas noites.
Desta vez só fiz 50% do "trabalho de casa", culpando o clima, e a crise, e a propósito de crise, recuperei dois "poemas" sobre o tema "Crise- Anticrise", que já levara ao "Café Poema" dinamizado pelo Sérgio Guerreiro no "Capuccino" em Julho - Já então se falava na crise...
Há fotos com actuações dos participantes nesta "Noite com Poemas" no blog do Jorge Castro:  http://sete-mares.blogspot.com/

Aqui vão os poemas que li:


ANTI –CRISE?



Anti-crise?

Anti-Dantas, Pim!

Dizia o Almada,

Aquele que de Negreiros

Tinha o nome!



Anti-crise?

Anti- Ciclone! O dos Açores,

Dizia o Anthímio,

O de Azevedo,

O do Boletim Meteorológico!



 Anti-crise?

Anti-Derrapante!

Dizia o vendedor de material

De revestimentos

De pavimentos.



Anti- crise?

Anti-Cristo!

Dizia o Frederich,

O Nietzsche,

Nicht, Nikles, Batatoides!



Anti-crise?

Anti-Clerical!

Clamava o ateu

Que acha que os padres

São nefastos!



Anti-crise?

Antí-doto!

Dizia a linha SOS veneno,

Quando a suicida

Engoliu o raticida!



 Anti-crise?

Anti-depressivo!

Dizia o psicólogo

Receitando uma pipa de comprimidos

A quem tocou no fundo!



 Anti-crise?

Antí-tese!

Depois da Tese

E antes da Síntese

Como fazem os Dialécticos!



Anti-crise?

Anti- Aérea!

A Artilharia para deitar abaixo

As ideias esvoaçantes

De alguns sonhadores!



Anti-crise?

Anti-Democrata!

Não! Tu é que és! Anti-Fascista!

Anti-Racista!

Anti-gamente é que era!



Anti-crise?

Anti-Quê?

Não acham que já chega?

Façam qualquer coisa!

Mas por favor!

Não imitem o Tarado da Noruega!


Eduardo Martins
Carcavelos, Julho 2011


COERÊNCIA



Eu sempre fui coerente!

Sempre segui as minhas convicções!

Fui sempre do contra!

Fui sempre pelas minorias!

Fui sempre Anti!

Anti todas as maiorias!



Mas agora! Ai! agora!

Tive de rever as minhas opções!

Quando tantos estão contra a Crise,

Quando tantos são anti- crise!

Eu venho aqui afirmar,

E continuo a ser coerente,

Que se a maioria está contra a crise;

Se quase ninguém a apoia,

Então eu apoio a crise!



Eu desejo, ardentemente!

Que a crise cresça ainda mais!

Que se torne desmesuradamente enorme!

Quando ela atingir tudo,

Então eu já tenho de novo,

 Motivo para ser do contra!

Para ser Anti-Crise!

E então lutarei com todas as minhas forças

Para acabar com ela, a Crise!

E continuarei sempre! sempre!

A ser coerente!


Eduardo Martins
Carcavelos, Julho 2011

 


PORTUGAL, A SÁTIRA E O FUTURO



A Sátira veio, ondulando direita a mim

E com aquele ar irónico bem conhecido

Disse, sem mais nem menos, isto assim:

Então, que tal os temas que te tenho oferecido?



Apanhado completamente de surpresa

Eu que na altura noutras coisas cogitava

Como por exemplo em contar a mais com a despesa

De um esquentador que de repente avariava,



Deixando-me a tomar o banho frio

Ou a não tomá-lo, para poupar em água e gás

Encontrou-me a Sátira meio sem pio

Balbuciando, mas o que é que tu me dás?



És mesmo parvo ou andas a praticar?

Aí reagi, que a mim ninguém me ofende

Sem mais nem menos só para achincalhar

Leva chutos, pontapés, ou uma facada, depende!



O que é que queres dizer com isso, oh minha vaca?

Isso são modos de falar comigo?

Calma, calma, disse ela afastando a faca

Não me faças rir mais que eu não consigo!



Mas olhem só para este despautério

Esta sátira portuguesa sem vergonha

Vem para aqui com risinhos de mistério

Despejar sobre mim sua peçonha!



A dizer que me oferece temas vários

A mim, um cronista afamado

Que escreve em jornais e semanários

Dizendo sempre bem de tudo, e de bom grado!



Mas é mesmo por isso que aqui estou!

Se continuares a dizer bem de tudo e todos em geral

Com o estado péssimo a que tudo isto chegou,

Contigo a sátira tem o futuro garantido em Portugal.



Eduardo Martins

Carcavelos, Novembro 2011