sábado, 24 de novembro de 2012

A Longa Ausência

Mais de dois meses depois, hoje deu-me para aqui...
Deve ser da chuva, sabe-se lá...
Muitas coisas se têm passado, (não vou falar de desgraças politicas e económicas nacionais e internacionais...), eu sou muito mais comezinho, ou quem sabe, mais egocentrico, e portanto, vou passar a expor as "palavrascomoascerejas" produzidas para vários eventos nos ultimos tempos...

Em Coruche, em mais uma sessão de "Um Poema na Vila", em boas horas dinamizadas pela Ana Freitas, em Outubro, foi a vez do Sorriso na Poesia. Esta foi a minha colaboração:

 

O SORRISO NA POESIA

 

Entrou um dia o sorriso na Poesia

E penetrou-a a com trejeitos de risada,

Pior que a mosca, quando dia a dia,

Em qualquer porcaria pousa deleitada.

 

As temáticas da poesia são enormes,

Tão profundos os assuntos recorrentes,

Por vezes tão horrendos e disformes,

E incompatíveis com humores mais sorridentes …

 

Que o sorriso desflorando a poesia

E ao fazê-lo de um modo consentido

Conseguiu alegra-la dia a dia…

 

E o sorriso não deu o tempo por perdido

Porque deixou onde só desgraça havia,

Um sorrisinho sorridente e bem nascido…

 

 

 Eduardo Martins

Carcavelos, 12 de Outubro de 2012
 
 
 
 
A BIENAL DAS ARTES DE CARCAVELOS
 
 
Em Outubro foi grande a actividade Carcavelense para as comemorações do Aniversário da Junta de Freguesia, da Paróquia, e da Sociedade Musical e Recreativa de Carcavelos.
 
Houve uma Bienal de Artes, já muito bem documentada nomeadamente no blog "Sete Mares", (para o qual existe ligação ali ao lado...), e numa das actividades complementares da mesma Bienal, com a participação de 4 poetas "da casa", a saber por ordem alfabética: Carlos Peres Feio; Eduardo Martins; Francisco Lampreia, e Jorge Castro, elaborei, após uma "aturada pesquiza", um texto sobre as Ruas de Carcavelos, a que adicionei a leitura da poesia "À Procura da Rua do Meio", que tinha feito para o lançamento do livro sobre a Toponímia de Carcavelos, há cerca de um ano.
 
AS RUAS DE CARCAVELOS
 
Tentativa de Análise Classificativa
 
Uma das várias coisas que na Escola tínhamos obrigação de aprender em Ciências Naturais, era que a natureza se dividia em três reinos, o animal, o vegetal e o mineral. Como também nos ensinavam em História, que de um modo geral, os reinos ou coexistiam mais ou menos pacificamente, ou então andavam em guerra uns com os outros, o que também ainda acontece agora, por vezes mesmo com os reinos da natureza.
 Folheando o livro “Toponímia da Freguesia de Carcavelos” de Manuel Eugénio F. Silva e José Ricardo C. Fialho, lançado há cerca de um ano, para procurar a localização de uma determinada rua, a diversidade dos nomes existentes, demonstrando por vezes grande imaginação, para as avenidas, ruas, travessas, becos, largos, praças, estimulou-me para uma tentativa de análise e integração classificativa desses nomes nos reinos animal, vegetal e mineral.
Em relação ao reino animal, obviamente os racionais, ou seja, as pessoas, constituem as presenças mais importantes, havendo 47 personalidades vivas ou mortas, de reconhecimento e valia local; 63 nomes de pessoas vivas ou mortas, com reconhecimento nacional, considerando 30 desde a actualidade até aos princípios do século XX, e outros 33 pertencentes a tempos mais antigos…; a nível mundial, 25 entidades, das quais 19 eram Santas e Santos; No total destes 135 nomes, 10 são designados por “Doutores”, e nenhum por “Arquitecto” ou “Engenheiro”…; No entanto, há 2 Generais, 1 Almirante, 1 Tenente Coronel, 1 Alferes, 1 Soldado, e… 2 Donas, 2 Dons, 2 Padres e um “Frei”.
Existe também uma actividade profissional relembrada na generalidade, os “Operários”.
Curiosamente, uma situação genérica e etária, a “Criança”, também tem direito a rua, que, não se sabe se devido a qualquer premeditação, começa na dita “Rua dos Operários”…
Outras situações genéricas e mais ou menos relativas a certas faixas etárias:
- A “Rua da Gente Nova”, começa na “Rua do Sol Nascente”, da qual se falará mais adiante…;
- A “Rua dos Namorados”, começa nas “Escadinhas do Mercado”, e acaba na “Rua do Parque”, no Alto dos Lombos…
Outra mais abrangente etariamente: a “Rua dos Pioneiros”, relembrando os que primeiro foram viver para aquela zona do Arneiro;
Outra actividade, profissional, embora de mérito eminentemente humanitário, também tem direito a rua: A dos “Bombeiros Voluntários de Carcavelos”, cujo nome se mantém inalterado, não acompanhando a deliberação da Assembleia Geral da Associação, sobre a nova designação de “Bombeiros Voluntários de Carcavelos e São Domingos de Rana”…  
Ainda no reino animal, mas entrando pelos “irracionais”, ao nível dos “vertebrados”, apenas se encontra uma Ave, um “Falcão”, e quanto aos “invertebrados”, nos Insectos, há “Cigarras” e “Gafanhotos”…
Chegados ao reino vegetal, há ruas com nomes de arbustos e de árvores, sendo que os de arbustos são 4, e os de árvores 9; vários tipos de plantas baptizam 5 ruas, e as diversas flores, dão nome a 14 arruamentos.
Podemos fazer extrapolações, e considerar como ligadas ao reino vegetal, e vá lá, também ao reino animal, uma travessa, um parque, duas ruas, uma praceta e uma rotunda, com a designação genérica de “Quinta” e as qualificações de “da Alagoa”; “dos Gafanhotos”; “da Lobita”; “Nova”; “de São Gonçalo”; “da Vinha”… num total de 6.
Chegados ao reino mineral, considerando que este diz respeito a objectos inanimados, pensamos em pedras e em rochas, mas desse tipo não existem designações de ruas na Freguesia de Carcavelos; Nomes de Rios e ribeiras existem, embora não sejam tão inanimados como isso, porque a água, quando não estão secos, sempre vai correndo à procura da foz, identificam 12 arruamentos;
As ilhas, com o seu isolamento, embora por vezes formando arquipélagos, estão lembradas em 24 situações;
Aldeias, Vilas, Cidades, Regiões, na grande maioria nacionais, são invocadas 38 vezes;
Países, aparecem 14 vezes, sem que se ouçam os respectivos hinos…
Mas a nível mais global, supra nacional, e redondo, temos a “Rotunda Ibéria” e a “Rotunda União Europeia”…;
Nesta ânsia nominativa até o universo se convoca, havendo a “Praceta do Sol”,  a “Rua do Sol Nascente” e a “Rua do Pôr do Sol”…;
Voltando a escalas mais próximas, muitas vezes ao nível das pequenas coisas, objectos ou locais, de maior ou menor utilidade ou fruição, ou outros de maior porte que exerceram ou exercem funções de controlo ou defesa, existem vários arruamentos de nomes curiosos, para não dizer por vezes insólitos, mas que se erguem orgulhosos, cumprindo a sua função identificativa.
Passo a nomeá-los por ordem alfabética:
Alfandega Velha; Auto Estrada A-5; Avião Lusitânia; Bairro Militar do Forte de São Gonçalo; Bugio; Canto; Cassanito; Catavento; Chafariz; Creche; Direita; Escola; Escola Secundária de Carcavelos; Feitoria; Fonte da Aldeia; Jogo da Bola; Lagoias; Medrosa; Miramar; Principal; Sociedade Velha; Torre; Variante à Nacional 6,7;
Se quiséssemos continuar nos reinos da Natureza para enquadrar outros nomes de arruamentos, teríamos de passar a inventar um reino mais imaterial, para por exemplo: “Datas”: Há duas ruas com Dezoitos, um de Janeiro, e outro de Junho, correspondentes a datas marcantes localmente, uma de inauguração de uma urbanização, outra de constituição de uma cooperativa de habitação;
Uma terceira data atribuída à “Rua Cinco de Outubro”, tem um carácter bastante mais alargado, correspondendo à implantação da Republica em Portugal;
Continuando nas “Imaterialidades”, há duas ruas cujos nomes inicialmente não teriam tantas ligações entre si, mas que a triste força das circunstâncias terá feito aproximar: Refiro-me à “Rua do Trabalho”, assim designada por lá ter morado um Ministro do Trabalho; e à “Rua da Saudade”…
Com a situação de crise generalizada em que vamos vivendo, penso que cada vez haverá mais gente com “saudade” de ter “trabalho”…
Por aqui me fico nesta análise dos nomes das ruas de Carcavelos, e porque curiosamente não existe aqui nenhuma “Rua do Meio”, vou terminar com uma poesia que fiz para a apresentação do citado livro que usei para esta busca, há cerca de um ano, na Junta de Freguesia de Carcavelos, poesia que se chama precisamente, “À Procura da Rua do Meio”…      
Eduardo Martins
                                                           
Carcavelos, 26 de Outubro de 2012
 
 
TOPONÍMIA DE CARCAVELOS
 
À procura da rua do meio
 
Hoje dei por falta de uma rua, a rua do meio.
Procurei no sítio onde habitualmente guardo as ruas.
Estavam lá muitas, mas não estava a rua do meio,
Que era a que eu hoje precisava!
 
Fui à garagem ver se a teria deixado no carro.
Estavam algumas ruas estendidas no banco de trás,
Mas a rua do meio não estava no meio delas!
Onde é que a terei posto?
 
O que é que lhe poderá ter acontecido?
Como é que ela desapareceu?
Onde é que eu a poderei ter deixado?
Será que me roubaram a rua do meio?
 
Uma rua não desaparece assim,
Sem mais nem menos, sem se dar por ela!
Hoje de manhã saí à rua para comprar o jornal e beber um café.
E não me lembro de levar a rua do meio comigo.
 
Confesso que por vezes
Estou muito tempo sem ligar nada às ruas,
Nem sequer olho para elas.
Mas de vez em quando, levo algumas a passear
 
E elas gostam, gostam muito de ir à rua.
Chamam nomes umas às outras,
Dizem piadas, às vezes não têm cuidado,
Já houve uma que quase foi atropelada!
 
A rua do meio, já há muito tempo que não a vejo.
Mas hoje, precisava mesmo dela,
Para ver o que é que se passa no número 15 da rua do meio,
 E zás! Logo me acontece isto!
 
Estou mesmo aborrecido!
Eu sei que colegas meus também têm a rua do meio,
Mas são de outras terras, não é a mesma coisa
Mesmo que ma emprestassem, não resolvia nada.
 
Resolvi comer qualquer coisa
Fui à cozinha, abri o frigorífico,
E lá estava a rua do meio, muito fresquinha,
Metida numa travessa…
 
Eduardo Martins
Carcavelos, 15 de Outubro de 2011
 
 
NOITES COM POEMAS EM NOVEMBRO
 
Este mês, o tema foram "Ritos e Tradições". Para a aprofundada reportagem sobre a sessão, mais uma vez vos convido a visitar o Blog "Sete Mares", onde o Jorge Castro continua a documentar todos os acontecimentos, com a preciosíssima ajuda na reportagem fotográfica da Lídia Castro e da Liurdes Calmeiro.
 
Foi este poema que eu lá apresentei:
 
 
RITUAIS E TRADIÇÕES EM PORTUGAL
 
A TRADIÇÃO JÁ NÃO É O QUE ERA
 
Por artes, digamos, gramaticais, a Tradição,
Sentindo o tempo pesar cada vez mais,
Deixou cair o “d” que estava denso demais,
E houve logo quem lesse e gritasse: Traição!
 
Não satisfeita ainda a Tradição,
Muito atenta às novidades mundiais,
Achou que devia mudar mais,
E trocou o “i” por “u”, deu Tradução!
 
Clamam ainda agora os puristas,
Depois de tantas mudanças que houvera:
“Sobre que escreverão agora os cronistas?”
 
“Ai fado, fado, onde é que para a Severa?”
“E que piadas se insinuarão nos teatros das revistas?”
Calem-se chorosos saudosistas que a tradição já não é o que era!
 
Eduardo Martins
Carcavelos, 16 de Novembro de 2012
 
 
CORUCHE: SESSÃO EXTRAORDINÁRIA DE "UM POEMA NA VILA"
 
Sessão de facto extraordinária, porque, no cenário da Biblioteca do Mercado Municipal, com um enquadramento de magnificas fotográfias de paisagens do Douro Vinhateiro ali expostas, se procedeu ao lançamento do livro colectivo "A Minha Rua", sendo temas da sessão "Sentir o Livro" e, por envolvimento, "A Paisagem Duriense".
Sobre o lançamento do Livro, e as optimas reportagens, mais uma vez... "Sete Mares", quanto à produção própria para a ocasião, aqui vai:
 
 
SENTIR O LIVRO

Há manuais sobre como sentir o livro
Escrevem sobre a capa, rígida ou cartonada;
A contracapa, as badanas, as dimensões;
A encadernação e os filetes, dourados, se mais clássico;
 Apalpam a finura das folhas, a textura do papel,
Referem o corpo e o tipo tipográfico usado, com ou sem serif
 
Escrevem, enfim, sobre a qualidade da embalagem
Sobre o conteúdo, é que há outros especialistas a escrever:
Chamam-se críticosliterários
 
Sobre as embalagens, é como com os presentes de Natal
Umas capas mais vistosas, outras mais sóbrias,
Embrulham os conteúdos que às vezes pouco valem
 
Sobre os conteúdos, houve livros que senti,
Que lembro, que reli, uma, ou mais vezes,
Porque cada leitura revela novidades.
Uns históricos, outros biográficos, satíricos, surrealistas,
Poéticos, didácticos, utilitários.
 
Mas lembro que o livro que mais senti,
Foi um grosso, pesado, de capa rígida, O Livro de Pantagruel,
Que ofereci a uma namorada de então,
Que era uma negação para a cozinha
 
Ainda hoje tenho uma cicatriz na testa,
Provocada por uma aresta do livro que ela me devolveu
 
Felizmente, não me atirou com o fogão
 
Eduardo Martins
Carcavelos, 16 de Novembro de 2012
 
 
 
A ARQUITECTURA DA PAISAGEM VINHATEIRA DURIENSE

O Homem tantas vezes acusado de destruir as paisagens,
Ao transformá-las, faz por vezes maravilhas de engenho e beleza.
Nos penhascos agrestes das margens do Douro,
Criou os terraços perfilados e ondulantes,
Onde plantou carinhosamente as videiras,
Que sofridamente, expostas a climas extremos,
São a maternidade das preciosas uvas,
Que vindimadas e sujeitas a violentos tratamentos,
Depois de repousos bem acompanhados,
Renascem transformadas em deliciosos néctares.
 
Os imensos socalcos do Douro,
São contínuos jardins suspensos,
Duma outra Babilónia, onde as línguas
Não se tornaram incompreensíveis entre si,
Como naquela a cujos povos se aplicou esse castigo
Como punição pela ambição desmedida,
De querer erguer uma torre que subisse até aos céus.
 
Nesta outra Babilónia, a ambição e o sonho,
O sofrimento, a compreensão e a partilha,
Cumpriram o objectivo de fazer os humanos
Chegar ao céu, ou a qualquer outro bendito paraíso,
Quando saboreiam os néctares do Douro, que no Olimpo,
As divindades mais dadas a estes terrenos prazeres,
Não desdenhariam ingerir, gozando cada gota,
Deslizando desde as suas divinas bocas,
Libidinosamente, até aos seus rotundos e divinos bandulhos.
 
Eduardo Martins
Carcavelos, 16 de Novembro de 2012