sexta-feira, 26 de julho de 2013

Sete semanas a seguir a novela do (Des)Governo...

A produção poética pessoal tem sido fraca, mas compensada pela túmida produção (des)governativa com romances policiais, de terror, de ficção cientifica, de dramalhões, de bandas desenhadas, eu sei lá... e para estar minimamente actualizado com tanta informação, os neurónios vão-se queixando...

Nestas semanas todas, apenas foram paridas três poesias ( A princesa britânica pariu um príncipe herdeiro, e por cá foi-se parindo nem sei bem o quê...) da minha lavra: Uma de âmbito familiar, outra para as "Noites com Poemas", e outras para "Um Poema na Vila"... Foi o que se conseguiu arranjar...


FUTEBOLHÃO

 

Na “Cubicidade”, ou melhor,

Na “Vila de Olhão

Da Restauração”…

Em pleno Estádio Municipal,

Reinou grande agitação,

E surpresa para alguns…

Com o inesperado festival

De prática infanto-futebolística,

Última manifestação

Da precoce habilidade,

Antes de haver a final,

Pela “Zon Kids” patrocinada,

A realizar em Guimarães,

Para o efeito proclamada,

Depois de Europeia da Cultura,

Como Capital da Infantil Futebolada…

 

O Festival contou com a presença

Domingueira, atenta e devidamente equipada

(E nalguns casos, familiarmente obrigada…)

De muitos Avós, e Pais, e Mães…

O calor era de rachar,

E a espera desesperada,

Até verem os rebentos actuar,

Mostrando as habilidades

Inúmeras vezes treinadas,

Alimentando expectativas

De universais glórias,

De monumentais vitórias

De fortunas excessivas…

Ou então, de efémeras ascensões,

E rotundos trambolhões,

 Nas tristes realidades quotidianas

Dos desempregos abundantes,

Das economias derrapantes,

Que nos tentam camuflar

Com gráficos e contas erradas,

Pausadamente rezadas,

Por ministros impantes,

De falsas sabedorias,

Impingindo ao fundo a luz,

Dum túnel que é um poço,

Sem fundo, onde caímos nus,

Rotos, de corda ao pescoço,

Famintos, desesperados,

Arrastando a imposta cruz,

Dum calvário que não queremos,

E que nem mesmo esquecemos,

Quando o futebol nos acena,

Com laivos de falsa alegria

Nesta existência obscena,

Para que somos atirados,

Depois de bombardeados,

Por milhões de promessas não cumpridas,

Que tão bem, nos têm lixado as vidas!


Eduardo Martins

30 de Junho de 2013


NOITES COM POEMAS

 

CONTAS x CONTOS x CANTOS E QUE +?


 

Quantas contas contas ao desfiar

As contas do teu rosário?

Quantas contas contas ao contar

As contas do teu colar?

Quantos contos contas

Quando contas alguns euros?

Quantos contos contas contar

Para o teu neto sossegar?

Quantos contos contas cantando

cantos de embalar?

Quantos cantos cantas e encantas

Fazendo tantos sonhar?

Quantos cantos tristes cantas

Pelos cantos solitários dessa casa

Em que foste tão feliz?

Quantos cantos ainda recordas

Quando foi Abril neste país?

Não têm conta os contos

Contados, cantados e recantados

Que tanto foram sonhados

E agora jazem coitados

Tristes, desanimados,

Refundidos, reformados,

Aposentados, lixados!

Pelos cantos ouvem-se ais,

Não há cantos triunfais!

Que fazer então?

E que mais?

 

Eduardo Martins

Carcavelos, 20 de Junho de 2013
 
 
 

 
UM POEMA NA VILA
 
ENQUANTO DURA O POEMA
 
Enquanto dura o Poema,
O interesse permanece, 
Ou rápido, desaparece,
Tudo depende do tema.
 
Se ele é bem declamado,
E ouvido atentamente,
Então ele fica presente,
E na memória gravado.
 
Se é diligentemente lido,
E o conteúdo assimilado,
Digere-se o resultado,
E o tema é assumido.
 
Conforme a ocasião,
Ou anima o nosso mundo,
Ou bate-nos lá bem no fundo,
E causa-nos depressão.
 
Ou é escrito com paixão,
Falando de amor eterno,
Que não é tema moderno,
Mas alimenta a ilusão;
 
Ou há borboletas no ar,
E a pousar em florezinhas,
Ou esvoaçam avezinhas,
De amoroso pipilar;
 
Ou fala de alguém ausente,
Que se foi, porque morreu,
E o encaminha para o céu,
Tornando-o omnipresente;
 
Ou são descritos terrores,
Dramas horríveis e crus,
De povos morrendo nus,
Em nome de outros valores;
 
Ou é cheio de ironia,
Suave, ou apimentada,
Tendo ficado corada
A vítima que atingia;
 
Pode contar aventuras,
E histórias bem colossais,
Entre homens e animais,
Nas mais perdidas lonjuras;
 
Tudo depende do tema:
O interesse permanece 
Ou rápido, desaparece
Enquanto dura o Poema.
 
 
Eduardo Martins
 
Carcavelos, 12 de Junho de 2013