segunda-feira, 21 de maio de 2012

No Farol de Santa Maria em Cascais

Comemorava-se o Dia Mundial dos Museus, e no Farol de Santa Maria, o tema para a sessão de Poesia foi... o Mar. Foi convidado o Jorge Castro, que convocou "os do costume" das "Noites com Poemas"...
Pela minha parte, resolvi fazer uma singela homenagem ao Bernardo Sassetti:


DIA MUNDIAL DOS MUSEUS 2012

POEMAS DEDICADOS AO MAR - POEMAS COM SABOR A MARESIA



Os sabores da maresia podem ser amargos.

A espuma pode ser perversa.

As ondas podem ser traiçoeiras.

Não trazem só para a praia os limos e o lixo,

Também levam para lhes fazer companhia

Aqueles que nos fazem falta aqui.

Uns pelos seus valores humanos,

Outros pela beleza da sua obra.

Pela cadencia da sua poesia,

Pelo rigor da sua prosa,

Pela cor dos seus quadros,

Pela luz das suas fotos,

Pela harmonia da sua música.



Bernardo: onde é que as ondas te queriam levar

Para tirares fotografias?

Acenavam-te com algum novo cenário

Para iniciares uma nova aventura musical?



Bernardo Sassetti: porque foste mergulhar no mar,

Quando respiravas inspiração em terra?



Os sabores da maresia, podem ser amargos…



Eduardo Martins

Carcavelos, 19 de Maio de 2012 os poluidores o Ambiente ia ser todos os dias

Um Poema na Vila - em Coruche

O tema era "O Montado, um Lugar Poético" na sessão de 4 de Maio.
Li este poema que descobri, do poeta Francisco Bogalho:


CORTICEIROS


No silêncio ardente do dia parado,
Há lida de gente no denso montado.


Há troncos despidos, já lívidos, frios,
E troncos que esperam, em funda ansiedade,
Com gestos convulsos, de sonhos sombrios,
Em dor e silêncio, por toda a herdade.


Os pés descalços trepam ágeis,
Sobem...
O machadinho crava-se e segura,
Como se fora um croque de abordagem,
O homem
A subir, na faina dura.
E lembra-me, assim vistos a distância,
- Os vultos a trepar pelos troncos gigantes –
Como em contos de infância,
Cornacas dominavam enormes elefantes.


Que os troncos majestosos e inermes
Têm o ar daqueles paquidermes,
Lentos, laboriosos, resignados. –
Desses trágicos braços contorcidos,
Que mais tarde, a sangrar,
São a gala maior desta paisagem,
E, agora, estão gelados, confrangidos
Pela tortura sem par,
No pino da estiagem,
Vão homens rudes, escuros e suados,
Lenço metido sob o chapéu largo,
Arrancando aos bocados,
Em férrea luta obscura,
Com qualquer coisa de febril e amargo,
A epiderme dura.


-Oh, velhas árvores dos montados!

E há pasmo na canícula.
E há silêncio, de assombro, na paisagem!


-Troncos dilacerados!...

Francisco Bugalho
Poesia


E de Produção Própria, feito exclusivamente para esta ocasião:



LAVOISIER E A NATUREZA

O Lavoisier, que entre outras coisas afirmou,

“Que na Natureza nada se cria, nada se perde,

Tudo se transforma”, acabou por perder a cabeça.

A culpa foi da Revolução Francesa,

Que não aceitava que ele estivesse do lado dos ricos,

Cobrando impostos aos pobres.

Mas a cabeça dele transformou-se na do Condorcet

Quando resolveram fazer-lhe a estátua.

Portanto não se perdeu completamente.


O Lavoisier, era capaz de ter razão.

O chaparro transforma-se em sobreiro,

Vários sobreiros transformam-se num montado.

Os sobreiros depois de desmontada a sua casca

Permitem a transformação da cortiça que a compõe

Em artefactos de várias formas, feitios e finalidades,

Que permitem pôr rolhas em garrafas,

Revestir pavimentos, e até vestir de forma bem isolada

As roupas que os designers conceberam.

Digam lá se isto não é poético? Tão poético é,

Que é proibido por lei o abate dos sobreiros,

Excepto quando outros valores mais altos se levantam…

Tais como os imobiliários, a eventualidade de aeroportos,

Ou umas tortuosas interpretações da defesa ecológica…

E claro, o Lavoisier continua presente, já que também

Os tribunais tomaram a defesa dos interesses dos poderosos

Contra os interesses da protecção do ambiente,

Ganhou Portucale, contra Portugal…

Carcavelos, 2 de Maio de 2012

Eduardo Martins

NOITES COM POEMAS - "VERMELHO COR DE SANGUE"

Nas "Noites com Poemas" do mês  de Maio, o convidado foi Garcia Rosado, que falou entre outras coisas, sobre os livros policiais que escreve, e nomeadamente, o ultimo, "Vermelho Cor de Sangue".

Alusivamente, li o poema que escrevi para a ocasião:


A INCAPACIDADE


 
Quisera escrever um livro

Com um conteúdo bem sórdido.

Pouco colorido

De preferência queria que fosse

Vermelho e negro.

Mas o Stendhal já se lembrara disso.



O que não queria dizer

Que o título fosse aquele,

Agora quanto ao conteúdo, devia ser

Vermelho e negro.



Mas que fosse para todos os efeitos

Um romance negro,

No sentido policial, de crime por resolver,

Com muito sangue,

Que quando fosse feito o filme,

Seria substituído por molho de tomate.



Tentei tudo, mas o vermelho não me saia!

Aparecia era um verde esperançoso por vezes

Que me traía a trama do romance!



Tentei aligeirar o conteúdo

E fazer um romance cor-de-rosa,

Mas também não me saia nada de jeito,

Só uns tons amarelados…



Não percebia o que me estava a acontecer.

Entretanto uma voz sussurrou-me ao ouvido:

Se calhar tens discromatopsia…

 Quase saltei, julgando ouvir uma ofensa.



Depois lembrei-me:

Pois é, eu não distingo algumas cores…

Sempre sofri de daltonismo.



Eduardo Martins


Carcavelos, Maio 2012