ANTI –CRISE?
Anti-crise?
Anti-Dantas, Pim!
Dizia o Almada,
Aquele que de Negreiros
Tinha o nome!
Anti-crise?
Anti- Ciclone! O dos Açores,
Dizia o Anthímio,
O de Azevedo,
O do Boletim Meteorológico!
Anti-crise?
Anti-Derrapante!
Dizia o vendedor de material
De revestimentos
De pavimentos.
Anti- crise?
Anti-Cristo!
Dizia o Frederich,
O Nietzsche,
Nicht, Nikles, Batatoides!
Anti-crise?
Anti-Clerical!
Clamava o ateu
Que acha que os padres
São nefastos!
Anti-crise?
Antí-doto!
Dizia a linha SOS veneno,
Quando a suicida
Engoliu o raticida!
Anti-crise?
Anti-depressivo!
Dizia o psicólogo
Receitando uma pipa de comprimidos
A quem tocou no fundo!
Anti-crise?
Antí-tese!
Depois da Tese
E antes da Síntese
Como fazem os Dialécticos!
Anti-crise?
Anti- Aérea!
A Artilharia para deitar abaixo
As ideias esvoaçantes
De alguns sonhadores!
Anti-crise?
Anti-Democrata!
Não! Tu é que és! Anti-Fascista!
Anti-Racista!
Anti-gamente é que era!
Anti-crise?
Anti-Quê?
Não acham que já chega?
Façam qualquer coisa!
Mas por favor!
Não imitem o Tarado da Noruega!
Eduardo Martins
Carcavelos, Julho 2011
COERÊNCIA
Eu sempre fui coerente!
Sempre segui as minhas convicções!
Fui sempre do contra!
Fui sempre pelas minorias!
Fui sempre Anti!
Anti todas as maiorias!
Mas agora! Ai! agora!
Tive de rever as minhas opções!
Quando tantos estão contra a Crise,
Quando tantos são anti- crise!
Eu venho aqui afirmar,
E continuo a ser coerente,
Que se a maioria está contra a crise;
Se quase ninguém a apoia,
Então eu apoio a crise!
Eu desejo, ardentemente!
Que a crise cresça ainda mais!
Que se torne desmesuradamente enorme!
Quando ela atingir tudo,
Então eu já tenho de novo,
Motivo para ser do contra!
Para ser Anti-Crise!
E então lutarei com todas as minhas forças
Para acabar com ela, a Crise!
E continuarei sempre! sempre!
A ser coerente!
Eduardo Martins
Carcavelos, Julho 2011
PORTUGAL, A SÁTIRA E O FUTURO
A Sátira veio, ondulando direita a mim
E com aquele ar irónico bem conhecido
Disse, sem mais nem menos, isto assim:
Então, que tal os temas que te tenho oferecido?
Apanhado completamente de surpresa
Eu que na altura noutras coisas cogitava
Como por exemplo em contar a mais com a despesa
De um esquentador que de repente avariava,
Deixando-me a tomar o banho frio
Ou a não tomá-lo, para poupar em água e gás
Encontrou-me a Sátira meio sem pio
Balbuciando, mas o que é que tu me dás?
És mesmo parvo ou andas a praticar?
Aí reagi, que a mim ninguém me ofende
Sem mais nem menos só para achincalhar
Leva chutos, pontapés, ou uma facada, depende!
O que é que queres dizer com isso, oh minha vaca?
Isso são modos de falar comigo?
Calma, calma, disse ela afastando a faca
Não me faças rir mais que eu não consigo!
Mas olhem só para este despautério
Esta sátira portuguesa sem vergonha
Vem para aqui com risinhos de mistério
Despejar sobre mim sua peçonha!
A dizer que me oferece temas vários
A mim, um cronista afamado
Que escreve em jornais e semanários
Dizendo sempre bem de tudo, e de bom grado!
Mas é mesmo por isso que aqui estou!
Se continuares a dizer bem de tudo e todos em geral
Com o estado péssimo a que tudo isto chegou,
Contigo a sátira tem o futuro garantido em Portugal.
Eduardo Martins
Carcavelos, Novembro 2011