domingo, 20 de novembro de 2011

CASA DO ALENTEJO

O Pedro Jardim continua a divulgar o seu primeiro livro "Crónicas do Avô Chico". 
Ontem, foi na mitica "Casa do Alentejo".
Eu tinha assistido ao lançamento na Junta de Freguesia de Carcavelos, comprei-o, autografado pelo autor, li-o com curiosidade, e pensei que nunca tinha escrito nenhum poema sobre o Alentejo...
E "aviei" dois... um genérico, sobre "Paisagens Alentejanas", e outro um "Exercício de Estilo"...
A partir de uma quadra do "Avô Chico", desenvolvi (tentei desenvolver...) umas "décimas", que considero uma forma tradicional e de grande valia dos "dezedores" alentejanos...
Fui até lá, à nova apresentação e perguntei ao Pedro Jardim, se dava para "fazer uma perninha"... e ele permitiu...
Eu que não sou alentejano, mas sim Lisboeta (de Belém...), com raizes na Beira Baixa e no Oeste, lembrei-me do que disse o Kennedy em Berlim, "que eram todos Berlinenses", e eu ali, em "território Alentejano", também afirmei que "eramos todos Alentejanos", e lá foi poema...


PAISAGENS ALENTEJANAS

No Alentejo há milhares

Todas de grande valia,

Conforme são os olhares

De quem bem as aprecia.



Conforme for o sentir

De quem se julgue capaz,

De ver, cheirar, provar, ouvir

O que o Alentejo nos traz.



Paisagens de muitas cores

Campos a perder de ver,

Onde se ceifavam dores

Muitas ainda a doer.



Há paisagens construídas,

Ruas, casas alinhadas

Onde às portas passam vidas,

Em conversas demoradas.



Com os homens em frente à mesa,

Ou na tasca em pé ao balcão

Cada petisco uma surpresa,

Venham mais, faz-se serão!



Corte a navalha um panito,

Que o petisco está a chegar,

Bebam lá mais um copito

Para a função começar.



E lá vem a cantoria

A relembrar tempos idos,

Tristes uns, a maioria

Outros porém, divertidos.



E os factos relatados

Por quem começa a canção,

São pelo coro confirmados

Com a voz do coração.



Com a voz do coração

Que se arrasta compassada,

Canta-se outra e outra canção,

Pelo petisco acompanhada.



Outros petiscos virão,

Mais copitos são virados.

Até que acabe o serão

Com cantes tão bem cantados.



Eduardo Martins


Carcavelos, Novembro de 2011



DÉCIMAS AO AVÔ CHICO

“Vejo mar e vejo terra

Vejo espadas a luzir

Vejo o meu amor em guerra

Sem lhe poder acudir”



O Alentejo não tem fim

Vai da raia até ao mar

Tão grande que o meu olhar

Nunca viu uma coisa assim

E às vezes digo para mim

Se é na planície ou na serra

Que de noite o sol se enterra

Porque ele fica deitado

Que eu não o vejo em nenhum lado

Vejo mar e vejo terra.



De manhã já acordada

A gente para um novo dia

Uma história aqui se ouvia

Acerca de uma coitada

Que à terra chegou cansada

Sem forças, quase a cair

E mesmo assim a repetir

Uma vez e outra vez

Foram três as que ela o fez

Vejo espadas a luzir



De que luziam as espadas

Ainda se está para saber

Que ela não o soube dizer

Se brilhavam de guardadas

Ou eram luzentes de usadas

Em lutas para além da serra

Lutando por ter a terra

Que tinham ido defender

Para a ganhar e não perder

Vejo o meu amor em guerra



E a guerra está para durar

Continua bem acesa

E não há nenhuma certeza

De quem é que a vai ganhar

Quem morre e quem vai matar

Quem fica em sangue a esvair

Se quem ganha se fica a rir

Se o meu amor combateu

Ou se lutando morreu

Sem lhe poder acudir



Eduardo Martins


Carcavelos, Novembro de 2011

   

2 comentários:

  1. Adorei as décimas, obrigado Eduardo, sinto-me muito honrado :D

    Grande abraço

    Pedro jardim

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  2. Eu tambem gosto muito das décimas. Trata-se do meu Alentejo e acho que lhe assentam bem. Mais uma vez parabens!
    Guida

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