domingo, 20 de novembro de 2011

NOITES COM POEMAS

Na Biblioteca de S. Domingos de Rana, numa noite de resistentes, devido às condições climatéricas abaixo de qualquer qualificação, foi pena que tão poucos tenham ouvido o Carlos Nogueira a falar da "Sátira Portuguesa".
Como tem sido meu hábito, preparo geralmente dois "poemas" alusivos ao tema para ler nestas noites.
Desta vez só fiz 50% do "trabalho de casa", culpando o clima, e a crise, e a propósito de crise, recuperei dois "poemas" sobre o tema "Crise- Anticrise", que já levara ao "Café Poema" dinamizado pelo Sérgio Guerreiro no "Capuccino" em Julho - Já então se falava na crise...
Há fotos com actuações dos participantes nesta "Noite com Poemas" no blog do Jorge Castro:  http://sete-mares.blogspot.com/

Aqui vão os poemas que li:


ANTI –CRISE?



Anti-crise?

Anti-Dantas, Pim!

Dizia o Almada,

Aquele que de Negreiros

Tinha o nome!



Anti-crise?

Anti- Ciclone! O dos Açores,

Dizia o Anthímio,

O de Azevedo,

O do Boletim Meteorológico!



 Anti-crise?

Anti-Derrapante!

Dizia o vendedor de material

De revestimentos

De pavimentos.



Anti- crise?

Anti-Cristo!

Dizia o Frederich,

O Nietzsche,

Nicht, Nikles, Batatoides!



Anti-crise?

Anti-Clerical!

Clamava o ateu

Que acha que os padres

São nefastos!



Anti-crise?

Antí-doto!

Dizia a linha SOS veneno,

Quando a suicida

Engoliu o raticida!



 Anti-crise?

Anti-depressivo!

Dizia o psicólogo

Receitando uma pipa de comprimidos

A quem tocou no fundo!



 Anti-crise?

Antí-tese!

Depois da Tese

E antes da Síntese

Como fazem os Dialécticos!



Anti-crise?

Anti- Aérea!

A Artilharia para deitar abaixo

As ideias esvoaçantes

De alguns sonhadores!



Anti-crise?

Anti-Democrata!

Não! Tu é que és! Anti-Fascista!

Anti-Racista!

Anti-gamente é que era!



Anti-crise?

Anti-Quê?

Não acham que já chega?

Façam qualquer coisa!

Mas por favor!

Não imitem o Tarado da Noruega!


Eduardo Martins
Carcavelos, Julho 2011


COERÊNCIA



Eu sempre fui coerente!

Sempre segui as minhas convicções!

Fui sempre do contra!

Fui sempre pelas minorias!

Fui sempre Anti!

Anti todas as maiorias!



Mas agora! Ai! agora!

Tive de rever as minhas opções!

Quando tantos estão contra a Crise,

Quando tantos são anti- crise!

Eu venho aqui afirmar,

E continuo a ser coerente,

Que se a maioria está contra a crise;

Se quase ninguém a apoia,

Então eu apoio a crise!



Eu desejo, ardentemente!

Que a crise cresça ainda mais!

Que se torne desmesuradamente enorme!

Quando ela atingir tudo,

Então eu já tenho de novo,

 Motivo para ser do contra!

Para ser Anti-Crise!

E então lutarei com todas as minhas forças

Para acabar com ela, a Crise!

E continuarei sempre! sempre!

A ser coerente!


Eduardo Martins
Carcavelos, Julho 2011

 


PORTUGAL, A SÁTIRA E O FUTURO



A Sátira veio, ondulando direita a mim

E com aquele ar irónico bem conhecido

Disse, sem mais nem menos, isto assim:

Então, que tal os temas que te tenho oferecido?



Apanhado completamente de surpresa

Eu que na altura noutras coisas cogitava

Como por exemplo em contar a mais com a despesa

De um esquentador que de repente avariava,



Deixando-me a tomar o banho frio

Ou a não tomá-lo, para poupar em água e gás

Encontrou-me a Sátira meio sem pio

Balbuciando, mas o que é que tu me dás?



És mesmo parvo ou andas a praticar?

Aí reagi, que a mim ninguém me ofende

Sem mais nem menos só para achincalhar

Leva chutos, pontapés, ou uma facada, depende!



O que é que queres dizer com isso, oh minha vaca?

Isso são modos de falar comigo?

Calma, calma, disse ela afastando a faca

Não me faças rir mais que eu não consigo!



Mas olhem só para este despautério

Esta sátira portuguesa sem vergonha

Vem para aqui com risinhos de mistério

Despejar sobre mim sua peçonha!



A dizer que me oferece temas vários

A mim, um cronista afamado

Que escreve em jornais e semanários

Dizendo sempre bem de tudo, e de bom grado!



Mas é mesmo por isso que aqui estou!

Se continuares a dizer bem de tudo e todos em geral

Com o estado péssimo a que tudo isto chegou,

Contigo a sátira tem o futuro garantido em Portugal.



Eduardo Martins

Carcavelos, Novembro 2011

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