Veio-me à memória um bocadinho de um poema do José Carlos Vasconcelos ouvida para aí há uns quarenta anos e que me fez um clique: Dizia assim: "Tricota a tua poesia tricota, meu grande filho da bota..."
E pegando nas agulhas e na lã da escrita, eu que penso não ser filho da bota, ofereci-lhe esta minha singela homenagem, que ele destacou de uma forma que muito me comoveu:
Aqui vai com a devida vénia, a foto do dito objecto de vestuário, e depois o escrito poema...
TRICOTA-ME UMA CALCINHA
Tricota-me uma calcinha
de lã, que seja quentinha,
com uma bolsa avantajada,
para sempre ter aprontada
aquela parte que é minha,
e que quando está sozinha
sente um frio de estremecer
e só lhe dá para encolher
se não tem nenhum carinho.
Nem que seja com um dedinho
de outra mão que não a minha
começa logo a crescer
e do frio a renascer.
Penso logo em coisa quente
e peço de modo urgente
àquela mão que está ali:
Pões-me a fazer chichi?"
para sempre ter aprontada
aquela parte que é minha,
e que quando está sozinha
sente um frio de estremecer
e só lhe dá para encolher
se não tem nenhum carinho.
Nem que seja com um dedinho
de outra mão que não a minha
começa logo a crescer
e do frio a renascer.
Penso logo em coisa quente
e peço de modo urgente
àquela mão que está ali:
Pões-me a fazer chichi?"
Eduardo Martins
Carcavelos, Janeiro 2012