TOPONÍMIA DE CARCAVELOS
A importância do Nome
Todas as coisas, animadas e inanimadas têm um nome pelo qual são designadas ou qualificadas. Até mesmo as “anónimas” têm este nome – anónimas, que significa precisamente, “sem nome”…
São os nomes que identificam os lugares - becos, travessas, calçadas, ruas, largos, praças e avenidas. “Toponímia” significa em linguagem vulgar “o nome dos lugares”.
Existem na toponímia por vezes, repetições de nomes, até em lugares bem próximos, mas que espelham a importância e a relevância que as entidades a que se referem esses nomes têm para a memória colectiva, e a necessidade de as perpetuar dando o seu nome a lugares que por vezes não são os mais adequados aos que aquelas entidades mereceriam...
Depois há outro fenómeno que é o dos “Homónimos” – aqueles que possuindo o mesmo nome designam no entanto entidades distintas, muitas vezes sem nada em comum, a não ser precisamente o nome…
Por exemplo, o nome com que subscrevo este texto - “Eduardo Martins”, que é aquilo que designo na brincadeira como o meu “nome artístico”, não é nada raro. Referencio com o mesmo nome, como exemplo um conhecido armazém que ardeu no Chiado em Lisboa; um canalizador na Parede; uma antiga loja de bicicletas na Rua da Palma também em Lisboa; Há também em Lisboa na freguesia da Ajuda uma rua com o nome de “Eduardo Martins Bairrada” que foi arquitecto e estudioso da “Calçada à Portuguesa”.
Recorrendo aos motores de busca na Internet e procurando em “Eduardo Martins”, contendo estas palavras, há mais de quinhentas mil entradas, para Portugal e Brasil, embora, sejamos sinceros, muitas delas repetidas, mas que desse por isso, nenhuma se referia a mim...
Chego à conclusão que a minha relevância é muito restrita, “sou conhecido lá na minha rua”… e mesmo assim às vezes, nem “Bom Dia” nem “Boa Tarde”…por parte dos vizinhos…
Chega de falar de mim!
Falemos de Carcavelos!
“Carcavelos”: Freguesia do Concelho de Cascais, Distrito de Lisboa.
“Cascais” é um nome. Os estrangeiros que nos visitam e não ligam muito a preconceitos chamam-lhe “Cidade de Cascais”. E daí não vem nenhum mal ao mundo, nem nunca reparei que lhes corrigissem a expressão, até é uma promoção, porque cá na região, a designação mais corrente é “Concelho de Cascais”, para a totalidade do território, ou apenas para a parte histórica da freguesia de Cascais propriamente dita, “Vila de Cascais”.
Às vezes na imprensa, notícias redigidas por pessoas menos informadas das realidades e minudências da Administração Interna, também referem a “Cidade de Cascais”.
A propósito: Com o nome “Cascais”, seja localidade ou freguesia e muito menos concelho, não existe mais nenhum em Portugal…
No entanto, quanto a “Carcavelos”…:
Freguesia não existe mais nenhuma, mas há 9 localidades com o nome de “Carcavelos”, pertencentes a várias freguesias, nos concelhos de: Celorico de Basto; Góis; Monção; Oliveira de Azeméis; Soure; Vila Verde; e Viseu;
Mas uma coisa posso assegurar: Freguesia com o nome de Carcavelos, pertencente ao Concelho de Cascais, no distrito de Lisboa, com os becos, travessas, calçadas, ruas, largos, praças e avenidas com as designações que constam do livro “A Toponímia de Carcavelos”, não há mais nenhuma!
À procura da rua do meio
Hoje dei por falta de uma rua, a rua do meio.
Procurei no sítio onde habitualmente guardo as ruas
Estavam lá muitas, mas não estava a rua do meio,
Que era a que eu hoje precisava!
Fui à garagem ver se a teria deixado no carro.
Estavam algumas ruas estendidas no banco de trás,
Mas a rua do meio não estava no meio delas!
Onde é que a terei posto?
O que é que lhe poderá ter acontecido?
Como é que ela desapareceu?
Onde é que eu a poderei ter deixado?
Será que me roubaram a rua do meio?
Uma rua não desaparece assim,
Sem mais nem menos, sem se dar por ela!
Hoje de manhã saí à rua para comprar o jornal e beber um café.
E não me lembro de levar a rua do meio comigo.
Confesso que por vezes
Estou muito tempo sem ligar nada às ruas,
Nem sequer olho para elas.
Mas de vez em quando, levo algumas a passear
E elas gostam, gostam muito de ir à rua.
Chamam nomes umas às outras,
Dizem piadas, às vezes não têm cuidado,
Já houve uma que quase foi atropelada!
A rua do meio, já há muito tempo que não a vejo.
Mas hoje, precisava mesmo dela,
Para ver o que é que se passa no número 15 da rua do meio,
E zás! Logo me acontece isto!
Estou mesmo aborrecido!
Eu sei que colegas meus também têm a rua do meio,
Mas são de outras terras, não é a mesma coisa
Mesmo que ma emprestassem, não resolvia nada.
Resolvi comer qualquer coisa
Fui à cozinha, abri o frigorífico,
E lá estava a rua do meio, muito fresquinha,
Metida numa travessa…
Eduardo Martins
Carcavelos, 15 de Outubro de 2011