sábado, 28 de maio de 2011

A 13 DE MAIO, NÃO NA COVA DA IRIA, MAS NA BIBLIOTECA OPERÁRIA OEIRENSE

MADRUGADAS DE POESIA

BIBLIOTECA OPERÁRIA OEIRENSE

INTRODUÇÃO



A minha relação com a escrita, nos quase 60 anos que levo de conseguir ler e escrever, nunca foi muito dada a devaneios literários.



Tirando as poesias da adolescência, de teor lírico- apaixonado, e as de preocupação introspectivo-mistico- social um pouco mais tarde, os meus escritos resumiam-se às redacções escolares, aos trabalhos liceais e universitários e ao relatório de estágio de fim de curso, já lá pelos vinte e seis anos…



Quando comecei a minha actividade profissional, tinha de elaborar “Memórias Descritivas e Justificativas”, e já tinha algumas preocupações com o modo de escrever…



Tive algumas colaborações de âmbito para- profissional no suplemento “Casas” do “Diário de Noticias”, e tirando isso, em estilo mais livre, apenas no género epistolar, que pratiquei pouco na versão escrita em papel, tipo “espero que esta o vá encontrar bem de saúde assim como todos os seus, que nós por cá vamos andando como vai sendo possível…”, e posteriormente, bastante mais na versão “email”, porque me habituei a escrever directamente no computador, e o “estilo” ia sendo apurado…



Foi precisamente a troca de “emails” com um amigo de adolescência, emigrado no Canadá, e responsável sucessivo de publicações periódicas para a comunidade portuguesa, que o levou a desafiar-me a colaborar com crónicas quinzenais, primeiro no “Sol Português”, com o titulo genérico “Lisboa que Amanhece”, “roubado” ao Sérgio Godinho, e depois no “Semanário” e por fim no “Portuguese Post” , nestes tendo as crónicas o titulo genérico de “Lisboa de Todas as Cores”.



Isto passou-se entre 1999 e 2002, e durante muito tempo perdi o rasto daqueles escritos, tanto no computador, como na versão dos jornais, ou em cópia em papel, e por coincidência, procurando outras coisas, vim a descobri-los há quinze dias, muito bem arrumados…



Reli-os e concluí que alguns dos textos, embora com uma dúzia de anos em cima, e bem datados, ainda podem ajudar a relembrar alguns acontecimentos…



E como no que diz respeito a produção dita poética eventualmente apresentável, só tenho meia dúzia de “textos”, que não são poesias formais, tendo em conta a costela Alentejana, que me puxa para a inércia e o descanso, resolvi trazer aqui algumas dessas “crónicas pré-datadas”… para vos ler, procedendo aos devidos enquadramentos.



Claro que o estimado auditório está à vontade para me mandar dar uma volta, se as minhas actuações estiverem a “verter fluidos líquidos orgânicos fora do contentor de esmalte, louça, ou plástico, destinado à sua recolha, principalmente nocturna”…



EDUARDO MARTINS *



*  a 13 de Maio, na B.O. Oeirense…







LISBOA QUE AMANHECE


EDUARDO MARTINS


Foi com uma impaciência e ansiedade equivalentes às das crianças esperando as prendas natalícias, trazidas, ou pelo Menino Jesus, (como me diziam que eram trazidas quando eu ainda tinha idade para acreditar nessas coisas, e quando ainda não era politicamente incorrecto falar-se de trabalho infantil- já viram bem, já pensaram, no esforço que o Menino Jesus faria para transportar e entregar todas as prendas a todos os meninos do mundo?).



Ou mais modernamente e com vestuário vermelho desenhado expressamente pela Coca-Cola (passe a publicidade que já aí vou ao contraponto), o Pai Natal, o São Nicolau, (ou que outros nomes lhe atribuem pelo mundo fora), a fazer a mesma coisa?



Mas, escrevia eu, que foi com a impaciência e ansiedade equivalentes, etc., etc., que esperei a edição internética do “Sol Português” para ver se a minha primeira colaboração tinha chegado em condições legíveis, (já não escrevo entendiveis...), o que pelos vistos (e lidos) aconteceu, e foi devidamente transcrito!



Antes de continuar, vamos resolver o problema do contraponto: Pepsi. João Paulo II. México. E mais não sei quantas empresas que apoiam aquela visita - pergunta-se: será por nobres objectivos Evangélicos, para tentarem garantir um lugar no Céu, se é que esse lugar se compra?, ou pura, simples e unicamente, para ganharem mais uns milhões, vendendo o seu produto, e comercializando (traficando?) a imagem do Papa? Nem respondo!  



Arrumado o problema dos refrigerantes, vamos a isto!



Resolveram os responsáveis do Sol Português, pôr um * à frente do meu nome, remetendo lá para o fundo do texto, onde informam que eu, sim! eu! sou arquitecto!



Considero, no mínimo essa atitude como discriminatória! Para o mal e para o bem! Salvaguardam-se assim de eventuais consequências! No género: Hipótese 1: O texto é indescritível: “Sabes como é, coitado, ele é Arquitecto...”; Hipótese 2: O texto até não é completamente destituído: “Sabes, ele é um artista polifacetado, é Arquitecto!



Pergunto-me, sim! pergunto-me!, se a minha profissão declarada para o IRS, fosse de arrumador de automóveis, no centro de Lisboa, (ou com aquela designação mais tecnocrática “Gestor dos Espaços Urbanos”)  daqueles que depois vão derreter as moedas nos mercados abastecedores de droga, se também lá punham o * !



Bem! Vamos lá deixar os narcisismos! Até agora já escrevi imenso sobre mim. (Deixa-me cá pensar: será que também estou a tentar vender o meu produto, ou estava mesmo só distraído e indignado?? )



Depois de um 1998 cheio de êxitos, - Expo 98; O Nobel da Literatura para José Saramago; O elevadíssimo nível de acidentes  rodoviários com vitimas mortais; Portugal também foi líder no consumo de álcool em 1998!



Vieram depois as desilusões:  1999, começa com um sexto lugar!: Eusébio da Silva Ferreira, o “Pantera Negra”, o orgulho de todos nós,  apenas ficou em sexto lugar na votação para o melhor jogador europeu do século! Organizada  pela Federação Internacional de História e Estatística do Futebol, esta votação também tinha em conta, além da Europa, a América do Sul, a Central e do Norte, a África, a Ásia e a Oceânia, ou seja os continentes todos. Será que pela fotografia, e não pela nacionalidade portuguesa assumida desde sempre, o júri considerou Eusébio moreno de mais para europeu de primeira?



Voltamos ao álcool:   



Na rubrica SAÚDE & BEM ESTAR do Sol Português (Edição de 22 de Janeiro de 1999), afirma-se que: “Três copos de vinho por dia melhoram a memória, dizem cientistas”. Ora esta notícia, conjugada com aquela ali em cima estampada, de Portugal ter sido líder no consumo do álcool em 1998,  fez-me ver a luz ao fundo do túnel, a resolução do teorema, a  revelação!: 



Portugal é um país de míopes!



Depois de beber três copos, a memória começa a melhorar, mas as imagens estão muito desfocadas! Para as focar melhor, bebem-se mais três, e depois mais três, e hips!, as imagens não melhoram, e porque será?



E nesta busca da memória, (de que é que nos queremos lembrar?) lá vamos bebendo e rindo, até atingir o objectivo final, melhorarmos a memória, para nos lembrarmos de que...,o que era? Não me consigo lembrar, vão lá mais três copos? Hic! Até à memória final!





Até para a semana que vem!



Eduardo Martins*



*Arrumador de Automóveis em Lisboa**



** Estou a brincar: Só arrumo e desarrumo o meu.

Sem comentários:

Enviar um comentário