A INFÂNCIA É UM TERRITÓRIO DESCONHECIDO
A EXPLORAÇÃO DO TERRITÓRIO
Preparou-se para que a missão
Corresse o melhor possível:
Fez listas das coisas a comprar,
Escolheu o equipamento indispensável.
Procurou acondicionar tudo da melhor maneira
Para que o peso fosse bem distribuído
E lhe permitisse a progressão
Nas melhores condições.
No dia aprazado, despediu-se
Da família e dos amigos,
E tomou vários transportes
Para chegar ao ansiado destino!
Fez a pé os últimos quilómetros
No meio de um campo ermo,
Sem nenhuma árvore nem arbusto
Que lhe desse qualquer sombra.
Depois, viu um muro alto
Que se estendia a perder de vista
Para ambos os lados,
E à sua frente, um portão fechado…
Que se abriu quando ele chegou ao pé,
Mostrando um caminho estreito
Ladeado pelos mesmos muros altos
Com mais de cinco metros de altura!
Lamentou não ter trazido cordas nem escadas
Nem sequer um periscópio
Para espreitar por cima do muro
Mas mesmo assim foi andando…, andando…
E ouviu sons, que vinham de trás dos muros.
Primeiro o choro de bebés recém-nascidos,
Depois choro de bebés com fome,
E também com sono e com dores;
A seguir ouviu palrar, ouviu sons articulados,
Ouviu a alegria dos adultos que entendiam
As primeiras palavras, e se alegravam
Com as primeiras palmas e os primeiros passos!
Ouviu adultos a ralharem com as crianças
Por elas não quererem comer,
Por não quererem ir para a cama,
Ou por não quererem tomar banho!
Ouviu adultos a acordarem as crianças
Porque já era de manhã e tinham de se levantar!
Ouviu crianças a serem deixadas
À porta da creche, do infantário ou da escola.
Ouviu adultos a beijar crianças e a perguntar
O que tinham feito na escola,
E se tinham trabalhos de casa para fazer.
E ouviu crianças a pedir para verem televisão.
Ouviu adultos a gritar com as crianças,
E a darem-lhes grandes tareias, e elas a chorar
E a acordarem de noite em sobressalto,
E ainda apanharem mais para estarem caladas;
E a estarem doentes, e a irem ao médico.
E os adultos a meterem baixa para as acompanhar,
E a dizerem na escola que elas não podiam ir
Porque estavam com uma doença contagiosa.
E continuava entre os muros,
E já não sabia quanto tempo andara
Nem que distância percorrera.
E todos aqueles sons a acompanha-lo.
Caminhou mais um pouco e viu
Que lá adiante os dois muros se juntavam,
E que neles no fim do caminho
Estava colado um papel escrito.
.
Aproximou-se para ver e leu:
“Chegaste até aqui e ouviste muita coisa!
Agora vai ter com o Fernando Pessoa
E vais ver se ele não te diz que o melhor do mundo são as crianças!”
Eduardo Martins
Carcavelos, Junho 2011
A INFÂNCIA É UM TERRITÓRIO DESCONHECIDO
O MELHOR DO MUNDO SÃO AS CRIANÇAS?
O Fernando Pessoa escreveu que “o melhor do mundo são as crianças”…
Ela devia saber porque o afirmava,
E era capaz de ter razão.
Porque já há muitos séculos antes de ele nascer,
O Herodes, em Belém da Galileia,
Gostava tanto das crianças,
Que mandou matar todas as que tinham menos de dois anos,
A ver se entre elas matava o Menino Jesus,
Porque tinha medo que este se quisesse tornar rei…
Mas o Menino Jesus safou-se e foi para o Egipto
E uns anos depois também chegou a dizer:
“Deixai vir a mim as criancinhas…”
Bastante mais tarde, com a Revolução Industrial,
Puseram as crianças a trabalhar desde a mais tenra idade…
A fazer tarefas que eram mesmo boas para elas…
O Hitler, esse não quis que as crianças judias se sentissem sozinhas
E mandou-as com as famílias todas para as câmaras de gás…
E os pedófilos? Eles também acham que “o melhor do mundo são as crianças”…
E os Comunistas?( pelo menos era o que se dizia…)
Gostam tanto de criancinhas
Que até as comem ao pequeno almoço…
Eduardo Martins
Carcavelos Junho 2011
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