quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Uma Questão de Física...

É sabido que o calor dilata os corpos, e que os corpos dilatados, (salvo algumas excepções devidamente comprovadas, e que não vêm agora ao caso...), ficam sem muitas das suas qualidades originais, tornando-se amolecidos, amorfos, sem grande vontade para reagir, inclusivamente para as suas necessidades mais elementares.

 Esta poderá ser uma desculpa esfarrapada para durante uma quantidade de tempo, não ter produzido palavras como as cerejas, até porque o calor a sério, só começou há pouco, mas enfim...

A produção poética, que no meu caso é muito pressionada pelas "encomendas", também se ressentiu da rarefação de solicitações...

Assim , tirando Coruche, e o Café da Vila, com "Um Poema na Vila" dedicado ao tema, "A Minha Rua", e que surpreendentemente revelou trabalhos muito interessantes de Poetas locais, e onde apresentei o poema que está a seguir, pouca ou nenhuma produção saiu...

 
A MINHA RUA
 
Na minha vida não há só uma rua
A que possa chamar minha.
Na minha vida, houve um largo e três ruas.
Houve um Largo,
Com o esclarecedor nome
De Domingos Tendeiro, em Belém.
Ali nasci e vivi, até aos dezassete anos.
O meu pai, o pai dele e o pai do pai dele,
Também já ali tinham nascido.
Ali, no Largo Domingos Tendeiro, Pátio 7, Porta 1.
Como antes de mim, lá nasceu a minha irmã,
E depois de mim o meu irmão.
O Largo Domingos Tendeiro foi a minha primeira rua.
A minha segunda rua, foi já em Carcavelos:
A Rua A, depois chamada de Principal,
Na Quinta dos Lombos.
Ali vivi até aos vinte seis anos,
No nº 13, R/Chão Esquerdo.
Quando casei, a minha terceira rua,
Foi noutra Quinta, a do Lameiro, na Parede,
Mas num 9º Andar, na Torre 3,
Numa rua chamada do Tejo...
Há vinte e três anos voltei para Carcavelos...
Para uma rua que agora tem o musical nome
De Fernando Lopes Graça...
E onde quase se ouvem as “Canções Heróicas”
E o grito “Acordai!” do poema de José Gomes Ferreira,
Se calhar tão actual de novo!
Como vêem, a minha rua têm sido várias.
Para já não falar daquelas, de empréstimo,
Que quase eram minhas, quando as frequentava.
Sonhando, sofrendo, namorando
Por causa disso, essas ruas
Também eram um bocado minhas
A minha rua tem tudo aquilo que uma rua
Que se preze deve ter, além do nome,
E da musica implícita:
Tem arvores de folha caduca,
Carregadas de pombos e rolas,
Que dejectam nos carros bem estacionados
À sombra, por baixo delas;
Tem falta de lugares de estacionamento
Para os residentes, durante os dias de semana,
 
Porque os professores da Escola Secundaria de Carcavelos,
Ocupam anarquicamente todos os lugares disponíveis,
Alastrando-se cada um, por dois ou mais lugares,
Certamente com receio de alguma riscadela na pintura...
Parece que os professores
Não frequentaram Educação Cívica,
Pelo menos no que diz respeito a estacionar carros
Além das arvores e dos carros,
A minha rua, também tem as casas
Onde moram as outras pessoas.
Uns são meus vizinhos,
Desde que viemos para cá,
E cumprimentamo-nos e dizemos piadas
Outros, não me conhecem.
São vizinhos mais recentes,
E pelos vistos malcriados.
Quando passo por eles,
Digo Bom Dia ou Boa Tarde,
Bem educadamente,
Como Bom Vizinho que procuro ser,

E eles não me respondem,
Mal educadamente
Não sei se têm medo que lhes peça:
Oh Vizinho, tem um raminho de salsa
Que me empreste?...

 Eduardo Martins
 Carcavelos, 10 de Julho de 2012


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