sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

SUZETE OLIVEIRA

A minha Sogra, morreu no passado dia 25 de Janeiro de 2012.

Aqui fica a minha homenagem.



D. SUZETE

Maria Suzete Nina Dias de Oliveira

31 de Maio de 1923 - 25 de Janeiro de 2012





A Ana e o Tó Zé chamavam-lhe Mamã.

Eu que era apenas genro, chamava-lhe D. Suzete.

E tive e tenho grande admiração por ela.

Era uma Dona de Casa, no sentido clássico do termo.

Viveu para o marido, os filhos e a casa.

E na casa, principalmente para a cozinha,

E para o gosto de experimentar novas receitas…

E sendo filha única, também apoiou a mãe, D. Leónia;

Os filhos casaram e saíram;

O marido sofreu, e ela sofreu com ele, e ele morreu;

E a mãe, devido à idade também partiu.

A casa ficou, e ela nela.

E começou finalmente

A gerir e a viver a sua própria vida.



Inscreveu-se na Universidade da 3ª Idade;

Foi “adoptada” por um grupo de professoras reformadas,

Fez passeios com elas

Em Portugal e pela Europa;



Tomava notas e guardava folhetos e recortes,

Sobre tudo o que lia, via ou ouvia,

Nas viagens, nas revistas, na TV, na rádio,

Sobre todos os assuntos que achava interessantes,

E que depois comentava connosco;



Telefonava dizendo que podíamos ir buscar

“Uma coisinha que tinha estado a fazer

Para o almoço dos netos, ela achava

Que eles talvez gostassem,

Mas também devia dar para nós…”



Encantava-se a ver as montras de moda

E a fazer apreciações sobre a roupa

E o modo como as pessoas se apresentavam,

“Muito bem vestidas, muito bem penteadas…”

Como aliás ela própria fazia questão de andar…



Guardava as facturas de tudo o que comprava,

Anotava as variações dos preços para os mesmos produtos;

Nas costas das facturas dos restaurantes onde íamos com ela,

Tecia considerações sobre a qualidade da comida e sobre o serviço;



Começou a visitar antiquários e casas de velharias,

E a chamar especialistas lá a casa,

Para fazer avaliações dos objectos que lá havia,

E que ela considerava que eram valiosos.

Certamente para ter noção do património

Que iria deixar aos filhos…



Fez férias connosco muitos anos,

Em Portugal, e pela Europa fora,

E recolhia sempre toda a informação que podia

Que depois organizava cuidadosamente no regresso a casa;



Mas as doenças que já a minavam

Foram tomando conta dela, e diminuindo-a fisicamente,

Retirando-lhe a mobilidade, provocando-lhe dores terríveis.

Amputaram-lhe uma perna, ficou ainda mais dependente,

Mas a cabeça continuava lúcida e sempre atenta.



Teve a grande alegria de ainda conhecer os bisnetos,

O Gustavo que gostava muito dela,

E a Violeta, que é bastante mais nova,

E com quem infelizmente, não chegou a privar muito.



Nos últimos dois anos esteve internada

No Centro Psicogeriátrico N. Senhora de Fátima,

Das Irmãs Hospitaleiras, na Parede,

Onde teve todos os cuidados médicos, de enfermagem,

E sobretudo de carinho das irmãs, e do restante pessoal.



Mas convivia bastante mal com o ambiente

De degradação das capacidades psicológicas

Que notava na maior parte das internadas.



O maior prazer que tinha era ser levada

A lanchar, ou pelo menos a passear

Até à rua, a ver montras e outras pessoas.



Quando lhe foram detectadas metástases no cérebro,

Não lhe foi dado mais do que um mês de vida.

Viveu quase mais um ano.

Certamente de grande sofrimento,

Mas de muito pouca queixa.



A partir de certa altura deve ter deixado

De ter interesse em viver, pelo estado de degradação

Física em que se sentia de dia para dia.

E não quis ser mais pesada para ninguém.

E deixou-se morrer.




Eduardo Martins
Carcavelos, Fevereiro 2012

3 comentários:

  1. Muito linda esta homenagem. As minhas condolências.

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  2. Beijinhos...

    Não sei se é linda mas é de facto sentida...

    Obrigado.

    EM

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  3. Há muito que queria ter escrito este comentário mas não tenho conseguido.
    A Senhora D. Suzete morreu no dia 25 de janeiro, dia dos meus anos e essa é uma das razões por que não vou esquecer nunca.
    Morava na casa cor de rosa, na marginal, por cima da praia da Parede.
    Conheci-a há mais de 40 anos. Era a mãe da Ana. Muito bonita, suave e simpática. Alegre e sempre preocupada com a família que sempre acompanhou atentamente - mãe, marido, filhos, netos e bisnetos. A sua casa era parte da sua vida. Como num museu ela conservou em malas e baús os objectos mais significativos da familia. Gostava de os rever com carinho e por isso recusou-se até ao fim a deixar a casa.
    A última vez que a vi foi no Lar onde viveu os últimos tempos, já dependente.Mostrou-me então um texto que tinha escrito para o jornal da Instituição. Chamava-se "A minha rua". -Gosto muito da minha rua, dizia. Na rua estava a sua casa que foi parte da sua vida.
    Para mim a casa cor de rosa que fica na marginal por cima da praia da Parede, será sempre a casa da mãe da Ana, Senhora D. Suzete. Se é verdade que as casas nos contam histórias, esta contem uma história de vida de alguem que embora não fosse da minha família eu gostava como se o fosse.

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