Li este poema que descobri, do poeta Francisco Bogalho:
CORTICEIROS
No silêncio ardente do dia parado,
Há lida de gente no denso montado.
Há troncos despidos, já lívidos, frios,
E troncos que esperam, em funda ansiedade,
Com gestos convulsos, de sonhos sombrios,
Em dor e silêncio, por toda a herdade.
Os pés descalços trepam ágeis,
Sobem...
O machadinho crava-se e segura,
Como se fora um croque de abordagem,
O homem
A subir, na faina dura.
E lembra-me, assim vistos a distância,
- Os vultos a trepar pelos troncos gigantes –
Como em contos de infância,
Cornacas dominavam enormes elefantes.
Que os troncos majestosos e inermes
Têm o ar daqueles paquidermes,
Lentos, laboriosos, resignados. –
Desses trágicos braços contorcidos,
Que mais tarde, a sangrar,
São a gala maior desta paisagem,
E, agora, estão gelados, confrangidos
Pela tortura sem par,
No pino da estiagem,
Vão homens rudes, escuros e suados,
Lenço metido sob o chapéu largo,
Arrancando aos bocados,
Em férrea luta obscura,
Com qualquer coisa de febril e amargo,
A epiderme dura.
-Oh, velhas árvores dos montados!
E há pasmo na canícula.
E há silêncio, de assombro, na paisagem!
-Troncos dilacerados!...
Francisco Bugalho
Poesia
Poesia
E de Produção Própria, feito exclusivamente para esta ocasião:
LAVOISIER
E A NATUREZA
O
Lavoisier, que entre outras coisas afirmou,
“Que
na Natureza nada se cria, nada se perde,
Tudo
se transforma”, acabou por perder a cabeça.
A
culpa foi da Revolução Francesa,
Que
não aceitava que ele estivesse do lado dos ricos,
Cobrando
impostos aos pobres.
Mas
a cabeça dele transformou-se na do Condorcet
Quando
resolveram fazer-lhe a estátua.
Portanto
não se perdeu completamente.
O
Lavoisier, era capaz de ter razão.
O
chaparro transforma-se em sobreiro,
Vários
sobreiros transformam-se num montado.
Os
sobreiros depois de desmontada a sua casca
Permitem
a transformação da cortiça que a compõe
Em
artefactos de várias formas, feitios e finalidades,
Que
permitem pôr rolhas em garrafas,
Revestir
pavimentos, e até vestir de forma bem isolada
As
roupas que os designers conceberam.
Digam
lá se isto não é poético? Tão poético é,
Que
é proibido por lei o abate dos sobreiros,
Excepto
quando outros valores mais altos se levantam…
Tais
como os imobiliários, a eventualidade de aeroportos,
Ou
umas tortuosas interpretações da defesa ecológica…
E
claro, o Lavoisier continua presente, já que também
Os
tribunais tomaram a defesa dos interesses dos poderosos
Contra
os interesses da protecção do ambiente,
Ganhou
Portucale, contra Portugal…
Carcavelos, 2 de Maio de 2012
Eduardo Martins
e contra as injustiças?...pela minha parte só podem contar com o voto, riscos e a poesia!
ResponderEliminarabraço
cpfeio
Contra as injustiças? Não consigo perceber a que te queres referir... Então a justiça não funciona optimamente???
ResponderEliminarA não ser que te estejas a referir a qualquer outro país para aí de qualquer outro mundo...