Esta poderá ser uma desculpa esfarrapada para durante uma quantidade de tempo, não ter produzido palavras como as cerejas, até porque o calor a sério, só começou há pouco, mas enfim...
A produção poética, que no meu caso é muito pressionada pelas "encomendas", também se ressentiu da rarefação de solicitações...
Assim , tirando Coruche, e o Café da Vila, com "Um Poema na Vila" dedicado ao tema, "A Minha Rua", e que surpreendentemente revelou trabalhos muito interessantes de Poetas locais, e onde apresentei o poema que está a seguir, pouca ou nenhuma produção saiu...
A
MINHA RUA
A que possa chamar minha.
Na minha vida, houve um largo
e três
ruas.
Houve um Largo,
Com o esclarecedor nome
De Domingos Tendeiro, em
Belém.
Ali nasci e vivi, até aos dezassete anos.
O meu pai, o pai dele e o pai do pai dele,
Também já ali
tinham nascido.
Ali, no Largo Domingos Tendeiro, Pátio 7, Porta 1.
Como antes de mim, lá nasceu a minha irmã,
E depois de mim o meu irmão.
O Largo Domingos Tendeiro foi a minha
primeira rua.
A minha segunda rua, foi já em Carcavelos:
A Rua A, depois chamada de Principal,
Na Quinta dos Lombos.
Ali vivi até aos vinte seis anos,
No nº 13, R/Chão
Esquerdo.
Quando casei, a minha terceira rua,
Foi noutra Quinta, a do Lameiro, na Parede,
Mas num 9º Andar, na Torre 3,
Numa rua chamada do Tejo...
Há vinte e três anos voltei para Carcavelos...
Para uma rua que agora tem o musical nome
De Fernando Lopes Graça...
E onde
quase se ouvem as “Canções Heróicas”
E o
grito “Acordai!” do poema de José Gomes Ferreira,
Se
calhar tão actual de novo!
Como vêem, a minha rua têm sido várias.
Para já não
falar daquelas, de empréstimo,
Que quase eram minhas, quando as frequentava.
Sonhando, sofrendo, namorando…
Por causa disso, essas ruas
Também eram um bocado minhas…
A minha rua tem tudo aquilo que uma rua
Que se preze deve ter, além do nome,
E da musica implícita:
Tem arvores de folha caduca,
Carregadas de pombos e rolas,
Que dejectam nos carros bem estacionados
À
sombra, por baixo delas;
Tem falta de lugares de estacionamento
Para os residentes, durante os dias de
semana,
Porque os professores da Escola Secundaria de
Carcavelos,
Ocupam anarquicamente todos os lugares disponíveis,
Alastrando-se cada um, por dois ou mais
lugares,
Certamente com receio de alguma riscadela na
pintura...
Parece que os professores
Não frequentaram Educação Cívica,
Pelo menos no que diz respeito a estacionar
carros …
Além das arvores e dos carros,
A minha rua, também tem as casas
Onde moram as outras pessoas.
Uns são meus vizinhos,
Desde que viemos para cá,
E cumprimentamo-nos e dizemos piadas…
Outros, não me conhecem.
São
vizinhos mais recentes,
E
pelos vistos malcriados.
Quando passo por eles,
Digo Bom Dia ou Boa Tarde,
Bem educadamente,
Como Bom Vizinho que procuro ser,
E eles não me respondem,
Mal educadamente…
Não sei se têm medo
que lhes peça:
“Oh
Vizinho, tem um raminho de salsa…
Que me empreste?...”
Eduardo
Martins
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