CONHECIMENTO CONDICIONADO
Salazar, “esse grande democrata”,
(como lhe chamou Hermano Saraiva),
Zelava tanto pelo bem do povo.
Que não queria que o povo se
inquietasse,
Zelava tanto, e com tantos zeladores,
Que a todos impunha uma máxima:
“Politicamente só existe aquilo
Que o público sabe que existe”…
Ou seja “Quanto menos souberes melhor,
Mais feliz serás, nós cá estamos para
sabermos
Mais e sermos mais infelizes.
O saber é uma desgraça!
E há pessoas que já são uns desgraçados,
Não contentes com a santa vida que
lhes queremos dar,
Querem ensinar mais aos outros,
Querem-nos fazer mais infelizes!
E nós, com a preciosa ajuda dos nossos
zeladores
Não podemos permitir isso!
O povo não precisa de saber mais!
Basta-lhe saber, ler, escrever e
contar!
Não queremos que as ideias subversivas
apareçam
Como desejam aqueles que dizem
Que querem o bem do povo!
O povo é feliz, tem tudo o que
precisa!
Não precisa de saber o que escrevem
Os autores de teatro, de romances, de
poesia,
E muito menos aqueles que se dedicam
A divulgar pensamentos subversivos e
contra o Estado!
E os chamados artistas plásticos,
Que em vez de representarem a sadia
natureza campestre,
Só sabem representar com formas
horrendas,
Aquilo a que chamam “os explorados
pelo patronato”?
Como se isso fosse verdade!
Quando tanto pugnámos para que os
patrões e empregados
Se dessem Corporativamente como Deus e
os Anjos!
Não podemos permitir essas falsidades!
Não podemos permitir que os jornais,
uns verdadeiros pasquins!
Noticiem falsidades sobre actos de
saudável convivência,
De membros do Governo, da Igreja e
outras pessoas influentes,
Com jovens de ambos os sexos, em
festas de solidariedade!
Portanto, cortamos tudo! A censura é
eficiente!
Não deixamos passar nada! Os nossos
zeladores
Serão louvados pela sua eficiência,
deixando-os
Por vezes participar nas tais festas
de solidariedade!
E para que tudo seja bem transparente,
para nós,
Investigamos a vida particular de
todos,
Aqueles que sobressaem sobre os outros,
Sejam jornalistas, políticos,
empresários,
Para que possamos controlá-los,
E impedi-los de continuar as suas
malfeitorias…
Desculpem! Onde é que eu já ouvi isto?
Parece que saltámos no tempo!
Estávamos a falar do tempo do Salazar
E da sua democracia,
Ou estamos nos tempos actuais
Onde os zeladores seguem métodos
parecidos?
A única diferença, é que por enquanto
Ainda se vai tendo conhecimento
De algumas das operações
Congeminadas pelos seguidores do
obscurantismo!
Eduardo Martins
Carcavelos, 31 de Maio de 2012
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