quarta-feira, 27 de junho de 2012

Noites com Poemas em Junho

Em Junho, a convidada foi Deana Barroqueiro, que falou dos seus romances de base histórica, tendo dado à sessão o titulo genérico de "Corsários dos Sete Mares".
Alusivamente, escrevi e li, para o momento o seguinte:


ASSALTANTES



O SETE, aquele número misterioso,

Dá para tudo!

Para as sete virtudes,

Os sete pecados mortais,

Para as sete saias,

Os sete anões,

Os sete dias da semana,

Para pintar o sete,

O sete e meio,

Os sete mares…



Os sete mares,

Espiados por assaltantes

De navios, carregados com as riquezas

Que arrancadas das terras colonizadas,

Eram transportadas

Para as capitais dos Impérios.



Os assaltantes, esses, eram de dois tipos.

Uns trabalhavam por conta própria,

Embora com colaboradores.  

Ou seja, praticavam já

Uma espécie de empreendedorismo,

Unipessoal, guardando para si,

E para os seus acompanhantes,

A totalidade do produto dos assaltos,

Aos navios que lhes passavam a jeito,

E procediam à repartição dos lucros

Segundo o secular principio,

De que “quem parte e reparte

E não fica com a melhor parte,

Ou é parvo, ou não tem arte”.



E esses eram chamados Piratas,

Com ou sem olho de vidro,

Com ou sem perna de pau

Com ou sem cara de mau…



Os outros assaltantes,

Mais sofisticados,

E com protecção legal,

Regalias sociais e reformas garantidas,

Estavam ao serviço

 De um, ou de mais dirigentes

De impérios concorrentes.



E assaltavam e roubavam

Os tesouros dos navios,

Por encomenda específica,

Para enfraquecer o poderio

Dos donos dos impérios

a que se destinavam

Os tesouros roubados

Dos navios assaltados…



E entregavam-nos aos donos dos impérios

Que os contratavam,

Que lhes pagavam generosas recompensas, 

E lhes atribuíam títulos honoríficos.



E estes eram os Corsários.



Actualmente, continua a haver

Piratas e Corsários.

São é conhecidos por outros nomes,

Que me dispenso de indicar.


Eduardo Martins

 Carcavelos, Junho 2012

segunda-feira, 11 de junho de 2012

CAFÉ POEMA- POESIA E LIBERDADE

No CAFÉ - POEMA, previsto para a sexta - feira 1 de Junho, e que não houve, porque o Dinamizador, o Sérgio Guerreiro, estava adoentado, o tema previsto era "POESIA E LIBERDADE", e eu preparei o poema que se segue:


CONHECIMENTO CONDICIONADO




 
Salazar, “esse grande democrata”,

(como lhe chamou Hermano Saraiva),

Zelava tanto pelo bem do povo.

Que não queria que o povo se inquietasse,



Zelava tanto, e com tantos zeladores,

Que a todos impunha uma máxima:

“Politicamente só existe aquilo

Que o público sabe que existe”…



Ou seja “Quanto menos souberes melhor,

Mais feliz serás, nós cá estamos para sabermos

Mais e sermos mais infelizes.

O saber é uma desgraça!



E há pessoas que já são uns desgraçados,

Não contentes com a santa vida que lhes queremos dar,

Querem ensinar mais aos outros,

Querem-nos fazer mais infelizes!



E nós, com a preciosa ajuda dos nossos zeladores

Não podemos permitir isso!

O povo não precisa de saber mais!

Basta-lhe saber, ler, escrever e contar!



Não queremos que as ideias subversivas apareçam

Como desejam aqueles que dizem

Que querem o bem do povo!

O povo é feliz, tem tudo o que precisa!



Não precisa de saber o que escrevem

Os autores de teatro, de romances, de poesia,

E muito menos aqueles que se dedicam

A divulgar pensamentos subversivos e contra o Estado!



E os chamados artistas plásticos,

Que em vez de representarem a sadia natureza campestre,

Só sabem representar com formas horrendas,

Aquilo a que chamam “os explorados pelo patronato”?



Como se isso fosse verdade!

Quando tanto pugnámos para que os patrões e empregados

Se dessem Corporativamente como Deus e os Anjos!

Não podemos permitir essas falsidades!



Não podemos permitir que os jornais, uns verdadeiros pasquins!

Noticiem falsidades sobre actos de saudável convivência,

De membros do Governo, da Igreja e outras pessoas influentes,

Com jovens de ambos os sexos, em festas de solidariedade!



Portanto, cortamos tudo! A censura é eficiente!

Não deixamos passar nada! Os nossos zeladores

Serão louvados pela sua eficiência, deixando-os

Por vezes participar nas tais festas de solidariedade!



E para que tudo seja bem transparente, para nós,

Investigamos a vida particular de todos,

Aqueles que sobressaem sobre os outros,

Sejam jornalistas, políticos, empresários,



Para que possamos controlá-los,

E impedi-los de continuar as suas malfeitorias…



Desculpem! Onde é que eu já ouvi isto?

Parece que saltámos no tempo!



Estávamos a falar do tempo do Salazar

E da sua democracia,



Ou estamos nos tempos actuais

Onde os zeladores seguem métodos parecidos?



A única diferença, é que por enquanto

Ainda se vai tendo conhecimento

De algumas das operações

Congeminadas pelos seguidores do obscurantismo!     




Eduardo Martins

Carcavelos, 31 de Maio de 2012