Ontem, foi na mitica "Casa do Alentejo".
Eu tinha assistido ao lançamento na Junta de Freguesia de Carcavelos, comprei-o, autografado pelo autor, li-o com curiosidade, e pensei que nunca tinha escrito nenhum poema sobre o Alentejo...
E "aviei" dois... um genérico, sobre "Paisagens Alentejanas", e outro um "Exercício de Estilo"...
A partir de uma quadra do "Avô Chico", desenvolvi (tentei desenvolver...) umas "décimas", que considero uma forma tradicional e de grande valia dos "dezedores" alentejanos...
Fui até lá, à nova apresentação e perguntei ao Pedro Jardim, se dava para "fazer uma perninha"... e ele permitiu...
Eu que não sou alentejano, mas sim Lisboeta (de Belém...), com raizes na Beira Baixa e no Oeste, lembrei-me do que disse o Kennedy em Berlim, "que eram todos Berlinenses", e eu ali, em "território Alentejano", também afirmei que "eramos todos Alentejanos", e lá foi poema...
PAISAGENS ALENTEJANAS
No Alentejo há milhares
Todas de grande valia,
Conforme são os olhares
De quem bem as aprecia.
Conforme for o sentir
De quem se julgue capaz,
De ver, cheirar, provar, ouvir
O que o Alentejo nos traz.
Paisagens de muitas cores
Campos a perder de ver,
Onde se ceifavam dores
Muitas ainda a doer.
Há paisagens construídas,
Ruas, casas alinhadas
Onde às portas passam vidas,
Em conversas demoradas.
Com os homens em frente à mesa,
Ou na tasca em pé ao balcão
Cada petisco uma surpresa,
Venham mais, faz-se serão!
Corte a navalha um panito,
Que o petisco está a chegar,
Bebam lá mais um copito
Para a função começar.
E lá vem a cantoria
A relembrar tempos idos,
Tristes uns, a maioria
Outros porém, divertidos.
E os factos relatados
Por quem começa a canção,
São pelo coro confirmados
Com a voz do coração.
Com a voz do coração
Que se arrasta compassada,
Canta-se outra e outra canção,
Pelo petisco acompanhada.
Outros petiscos virão,
Mais copitos são virados.
Até que acabe o serão
Com cantes tão bem cantados.
Eduardo Martins
DÉCIMAS AO AVÔ CHICO
“Vejo mar e vejo terra
Vejo espadas a luzir
Vejo o meu amor em guerra
Sem lhe poder acudir”
O Alentejo não tem fim
Vai da raia até ao mar
Tão grande que o meu olhar
Nunca viu uma coisa assim
E às vezes digo para mim
Se é na planície ou na serra
Que de noite o sol se enterra
Porque ele fica deitado
Que eu não o vejo em nenhum lado
Vejo mar e vejo terra.
De manhã já acordada
A gente para um novo dia
Uma história aqui se ouvia
Acerca de uma coitada
Que à terra chegou cansada
Sem forças, quase a cair
E mesmo assim a repetir
Uma vez e outra vez
Foram três as que ela o fez
Vejo espadas a luzir
De que luziam as espadas
Ainda se está para saber
Que ela não o soube dizer
Se brilhavam de guardadas
Ou eram luzentes de usadas
Em lutas para além da serra
Lutando por ter a terra
Que tinham ido defender
Para a ganhar e não perder
Vejo o meu amor em guerra
E a guerra está para durar
Continua bem acesa
E não há nenhuma certeza
De quem é que a vai ganhar
Quem morre e quem vai matar
Quem fica em sangue a esvair
Se quem ganha se fica a rir
Se o meu amor combateu
Ou se lutando morreu
Sem lhe poder acudir
Eduardo Martins
Adorei as décimas, obrigado Eduardo, sinto-me muito honrado :D
ResponderEliminarGrande abraço
Pedro jardim
Eu tambem gosto muito das décimas. Trata-se do meu Alentejo e acho que lhe assentam bem. Mais uma vez parabens!
ResponderEliminarGuida