Deve ser da chuva, sabe-se lá...
Muitas coisas se têm passado, (não vou falar de desgraças politicas e económicas nacionais e internacionais...), eu sou muito mais comezinho, ou quem sabe, mais egocentrico, e portanto, vou passar a expor as "palavrascomoascerejas" produzidas para vários eventos nos ultimos tempos...
Em Coruche, em mais uma sessão de "Um Poema na Vila", em boas horas dinamizadas pela Ana Freitas, em Outubro, foi a vez do Sorriso na Poesia. Esta foi a minha colaboração:
O SORRISO NA POESIA
Entrou
um dia o sorriso na Poesia
E penetrou-a
a com trejeitos de risada,
Pior
que a mosca, quando dia a dia,
Em
qualquer porcaria pousa deleitada.
As
temáticas da poesia são enormes,
Tão
profundos os assuntos recorrentes,
Por
vezes tão horrendos e disformes,
E
incompatíveis com humores mais sorridentes …
Que o
sorriso desflorando a poesia
E ao
fazê-lo de um modo consentido
Conseguiu
alegra-la dia a dia…
E o
sorriso não deu o tempo por perdido
Porque
deixou onde só desgraça havia,
Um
sorrisinho sorridente e bem nascido…
Eduardo
Martins
Carcavelos,
12 de Outubro de 2012
A BIENAL DAS ARTES DE CARCAVELOS
Em Outubro foi grande a actividade Carcavelense para as comemorações do Aniversário da Junta de Freguesia, da Paróquia, e da Sociedade Musical e Recreativa de Carcavelos.
Houve uma Bienal de Artes, já muito bem documentada nomeadamente no blog "Sete Mares", (para o qual existe ligação ali ao lado...), e numa das actividades complementares da mesma Bienal, com a participação de 4 poetas "da casa", a saber por ordem alfabética: Carlos Peres Feio; Eduardo Martins; Francisco Lampreia, e Jorge Castro, elaborei, após uma "aturada pesquiza", um texto sobre as Ruas de Carcavelos, a que adicionei a leitura da poesia "À Procura da Rua do Meio", que tinha feito para o lançamento do livro sobre a Toponímia de Carcavelos, há cerca de um ano.
AS RUAS DE CARCAVELOS
Tentativa de Análise
Classificativa
Uma
das várias coisas que na Escola tínhamos obrigação de aprender em Ciências
Naturais, era que a natureza se dividia em três reinos, o animal, o vegetal e o
mineral. Como também nos ensinavam em História, que de um modo geral, os reinos
ou coexistiam mais ou menos pacificamente, ou então andavam em guerra uns com
os outros, o que também ainda acontece agora, por vezes mesmo com os reinos da natureza.
Folheando
o livro “Toponímia da Freguesia de Carcavelos” de Manuel Eugénio F. Silva e
José Ricardo C. Fialho, lançado há cerca de um ano, para procurar a localização
de uma determinada rua, a diversidade dos nomes existentes, demonstrando por
vezes grande imaginação, para as avenidas, ruas, travessas, becos, largos,
praças, estimulou-me para uma tentativa de análise e integração classificativa
desses nomes nos reinos animal, vegetal e mineral.
Em
relação ao reino animal, obviamente os racionais, ou seja, as pessoas,
constituem as presenças mais importantes, havendo 47 personalidades vivas ou
mortas, de reconhecimento e valia local; 63 nomes de pessoas vivas ou mortas,
com reconhecimento nacional, considerando 30 desde a actualidade até aos
princípios do século XX, e outros 33 pertencentes a tempos mais antigos…; a
nível mundial, 25 entidades, das quais 19 eram Santas e Santos; No total destes
135 nomes, 10 são designados por “Doutores”, e nenhum por “Arquitecto” ou
“Engenheiro”…; No entanto, há 2 Generais, 1 Almirante, 1 Tenente Coronel, 1
Alferes, 1 Soldado, e… 2 Donas, 2 Dons, 2 Padres e um “Frei”.
Existe
também uma actividade profissional relembrada na generalidade, os “Operários”.
Curiosamente,
uma situação genérica e etária, a “Criança”, também tem direito a rua, que, não
se sabe se devido a qualquer premeditação, começa na dita “Rua dos Operários”…
Outras
situações genéricas e mais ou menos relativas a certas faixas etárias:
-
A “Rua da Gente Nova”, começa na “Rua do Sol Nascente”, da qual se falará mais
adiante…;
-
A “Rua dos Namorados”, começa nas “Escadinhas do Mercado”, e acaba na “Rua do
Parque”, no Alto dos Lombos…
Outra
mais abrangente etariamente: a “Rua dos Pioneiros”, relembrando os que primeiro
foram viver para aquela zona do Arneiro;
Outra
actividade, profissional, embora de mérito eminentemente humanitário, também
tem direito a rua: A dos “Bombeiros Voluntários de Carcavelos”, cujo nome se
mantém inalterado, não acompanhando a deliberação da Assembleia Geral da
Associação, sobre a nova designação de “Bombeiros Voluntários de Carcavelos e
São Domingos de Rana”…
Ainda
no reino animal, mas entrando pelos “irracionais”, ao nível dos “vertebrados”,
apenas se encontra uma Ave, um “Falcão”, e quanto aos “invertebrados”, nos
Insectos, há “Cigarras” e “Gafanhotos”…
Chegados
ao reino vegetal, há ruas com nomes de arbustos e de árvores, sendo que os de arbustos
são 4, e os de árvores 9; vários tipos de plantas baptizam 5 ruas, e as diversas
flores, dão nome a 14 arruamentos.
Podemos
fazer extrapolações, e considerar como ligadas ao reino vegetal, e vá lá,
também ao reino animal, uma travessa, um parque, duas ruas, uma praceta e uma rotunda,
com a designação genérica de “Quinta” e as qualificações de “da Alagoa”; “dos
Gafanhotos”; “da Lobita”; “Nova”; “de São Gonçalo”; “da Vinha”… num total de 6.
Chegados
ao reino mineral, considerando que este diz respeito a objectos inanimados,
pensamos em pedras e em rochas, mas desse tipo não existem designações de ruas
na Freguesia de Carcavelos; Nomes de Rios e ribeiras existem, embora não sejam
tão inanimados como isso, porque a água, quando não estão secos, sempre vai
correndo à procura da foz, identificam 12 arruamentos;
As
ilhas, com o seu isolamento, embora por vezes formando arquipélagos, estão
lembradas em 24 situações;
Aldeias,
Vilas, Cidades, Regiões, na grande maioria nacionais, são invocadas 38 vezes;
Países,
aparecem 14 vezes, sem que se ouçam os respectivos hinos…
Mas
a nível mais global, supra nacional, e redondo, temos a “Rotunda Ibéria” e a
“Rotunda União Europeia”…;
Nesta
ânsia nominativa até o universo se convoca, havendo a “Praceta do Sol”, a “Rua do Sol Nascente” e a “Rua do Pôr do
Sol”…;
Voltando
a escalas mais próximas, muitas vezes ao nível das pequenas coisas, objectos ou
locais, de maior ou menor utilidade ou fruição, ou outros de maior porte que
exerceram ou exercem funções de controlo ou defesa, existem vários arruamentos
de nomes curiosos, para não dizer por vezes insólitos, mas que se erguem
orgulhosos, cumprindo a sua função identificativa.
Passo
a nomeá-los por ordem alfabética:
Alfandega
Velha; Auto Estrada A-5; Avião Lusitânia; Bairro Militar do Forte de São
Gonçalo; Bugio; Canto; Cassanito; Catavento; Chafariz; Creche; Direita; Escola;
Escola Secundária de Carcavelos; Feitoria; Fonte da Aldeia; Jogo da Bola;
Lagoias; Medrosa; Miramar; Principal; Sociedade Velha; Torre; Variante à
Nacional 6,7;
Se
quiséssemos continuar nos reinos da Natureza para enquadrar outros nomes de
arruamentos, teríamos de passar a inventar um reino mais imaterial, para por
exemplo: “Datas”: Há duas ruas com Dezoitos, um de Janeiro, e outro de Junho,
correspondentes a datas marcantes localmente, uma de inauguração de uma
urbanização, outra de constituição de uma cooperativa de habitação;
Uma
terceira data atribuída à “Rua Cinco de Outubro”, tem um carácter bastante mais
alargado, correspondendo à implantação da Republica em Portugal;
Continuando
nas “Imaterialidades”, há duas ruas cujos nomes inicialmente não teriam tantas
ligações entre si, mas que a triste força das circunstâncias terá feito
aproximar: Refiro-me à “Rua do Trabalho”, assim designada por lá ter morado um
Ministro do Trabalho; e à “Rua da Saudade”…
Com
a situação de crise generalizada em que vamos vivendo, penso que cada vez
haverá mais gente com “saudade” de ter “trabalho”…
Por
aqui me fico nesta análise dos nomes das ruas de Carcavelos, e porque
curiosamente não existe aqui nenhuma “Rua do Meio”, vou terminar com uma poesia
que fiz para a apresentação do citado livro que usei para esta busca, há cerca
de um ano, na Junta de Freguesia de Carcavelos, poesia que se chama
precisamente, “À Procura da Rua do Meio”…
Eduardo
Martins
Carcavelos, 26 de Outubro de 2012
TOPONÍMIA DE CARCAVELOS
À
procura da rua do meio
Hoje dei por
falta de uma rua, a rua do meio.
Procurei no
sítio onde habitualmente guardo as ruas.
Estavam lá
muitas, mas não estava a rua do meio,
Que era a
que eu hoje precisava!
Fui à
garagem ver se a teria deixado no carro.
Estavam
algumas ruas estendidas no banco de trás,
Mas a rua do
meio não estava no meio delas!
Onde é que a
terei posto?
O que é que
lhe poderá ter acontecido?
Como é que
ela desapareceu?
Onde é que
eu a poderei ter deixado?
Será que me
roubaram a rua do meio?
Uma rua não
desaparece assim,
Sem mais nem
menos, sem se dar por ela!
Hoje de
manhã saí à rua para comprar o jornal e beber um café.
E não me
lembro de levar a rua do meio comigo.
Confesso que
por vezes
Estou muito
tempo sem ligar nada às ruas,
Nem sequer
olho para elas.
Mas de vez
em quando, levo algumas a passear
E elas
gostam, gostam muito de ir à rua.
Chamam nomes
umas às outras,
Dizem
piadas, às vezes não têm cuidado,
Já houve uma
que quase foi atropelada!
A rua do meio,
já há muito tempo que não a vejo.
Mas hoje,
precisava mesmo dela,
Para ver o
que é que se passa no número 15 da rua do meio,
E zás! Logo me acontece isto!
Estou mesmo
aborrecido!
Eu sei que
colegas meus também têm a rua do meio,
Mas são de
outras terras, não é a mesma coisa
Mesmo que ma
emprestassem, não resolvia nada.
Resolvi
comer qualquer coisa
Fui à
cozinha, abri o frigorífico,
E lá estava
a rua do meio, muito fresquinha,
Metida numa
travessa…
Eduardo
Martins
Carcavelos,
15 de Outubro de 2011
NOITES COM POEMAS EM NOVEMBRO
Este mês, o tema foram "Ritos e Tradições". Para a aprofundada reportagem sobre a sessão, mais uma vez vos convido a visitar o Blog "Sete Mares", onde o Jorge Castro continua a documentar todos os acontecimentos, com a preciosíssima ajuda na reportagem fotográfica da Lídia Castro e da Liurdes Calmeiro.
Foi este poema que eu lá apresentei:
RITUAIS E TRADIÇÕES EM PORTUGAL
A TRADIÇÃO JÁ NÃO É O QUE ERA
Por
artes, digamos, gramaticais, a Tradição,
Sentindo
o tempo pesar cada vez mais,
Deixou
cair o “d” que estava denso demais,
E
houve logo quem lesse e gritasse: Traição!
Não
satisfeita ainda a Tradição,
Muito
atenta às novidades mundiais,
Achou
que devia mudar mais,
E
trocou o “i” por “u”, deu Tradução!
Clamam
ainda agora os puristas,
Depois
de tantas mudanças que houvera:
“Sobre
que escreverão agora os cronistas?”
“Ai
fado, fado, onde é que para a Severa?”
“E
que piadas se insinuarão nos teatros das revistas?”
Calem-se
chorosos saudosistas que a tradição já não é o que era!
Eduardo Martins
Carcavelos, 16 de Novembro de 2012
CORUCHE: SESSÃO EXTRAORDINÁRIA DE "UM POEMA NA VILA"
Sessão de facto extraordinária, porque, no cenário da Biblioteca do Mercado Municipal, com um enquadramento de magnificas fotográfias de paisagens do Douro Vinhateiro ali expostas, se procedeu ao lançamento do livro colectivo "A Minha Rua", sendo temas da sessão "Sentir o Livro" e, por envolvimento, "A Paisagem Duriense".
Sobre o lançamento do Livro, e as optimas reportagens, mais uma vez... "Sete Mares", quanto à produção própria para a ocasião, aqui vai:
SENTIR
O LIVRO
Há manuais sobre como “sentir” o livro…
Escrevem
sobre a capa, rígida
ou cartonada;
A contracapa,
as badanas, as dimensões;
A encadernação e os filetes, dourados, se mais clássico;
Apalpam a finura das folhas, a textura do
papel,
Referem
o corpo e o tipo tipográfico
usado, com ou sem serif…
Escrevem,
enfim, sobre a qualidade da embalagem…
Sobre
o conteúdo, é que há outros especialistas a escrever:
Chamam-se
críticos…literários…
Sobre
as embalagens, é como
com os presentes de Natal…
Umas
capas mais vistosas, outras mais sóbrias,
Embrulham
os conteúdos
que às
vezes pouco valem…
Sobre os conteúdos, houve livros que senti,
Que lembro, que reli, uma, ou mais vezes,
Porque cada leitura revela novidades.
Uns
históricos,
outros biográficos,
satíricos,
surrealistas,
Poéticos, didácticos, utilitários.
Mas
lembro que o livro que mais senti,
Foi um
grosso, pesado, de capa rígida, “O Livro de Pantagruel”,
Que
ofereci a uma namorada de então,
Que
era uma negação para
a cozinha…
Ainda
hoje tenho uma cicatriz na testa,
Provocada
por uma aresta do livro que ela me devolveu…
Felizmente,
não me
atirou com o fogão…
Eduardo
Martins
Carcavelos,
16 de Novembro de 2012
A ARQUITECTURA DA PAISAGEM
VINHATEIRA DURIENSE
O
Homem tantas vezes acusado de destruir as paisagens,
Ao
transformá-las,
faz por vezes maravilhas de engenho e beleza.
Nos penhascos agrestes das
margens do Douro,
Criou
os terraços
perfilados e ondulantes,
Onde
plantou carinhosamente as videiras,
Que sofridamente, expostas
a climas extremos,
São a maternidade das preciosas uvas,
Que
vindimadas e sujeitas a violentos tratamentos,
Depois de repousos bem
acompanhados,
Renascem transformadas em deliciosos
néctares.
Os imensos socalcos do
Douro,
São contínuos jardins suspensos,
Duma outra Babilónia, onde as línguas
Não se tornaram incompreensíveis entre si,
Como
naquela a cujos povos se aplicou esse castigo
Como punição pela ambição desmedida,
De querer erguer uma torre que
subisse até aos céus.
Nesta outra Babilónia, a ambição e o sonho,
O
sofrimento, a compreensão e a
partilha,
Cumpriram
o objectivo de fazer os humanos
Chegar ao céu, ou a qualquer outro bendito paraíso,
Quando
saboreiam os néctares
do Douro, que no Olimpo,
As
divindades mais dadas a estes terrenos prazeres,
Não desdenhariam ingerir, gozando cada gota,
Deslizando
desde as suas divinas bocas,
Libidinosamente,
até aos
seus rotundos e divinos bandulhos.
Eduardo Martins
Carcavelos, 16 de Novembro de 2012